sexta-feira, 23 de maio de 2008

O novo Homem de Lata



Se você pensa que tudo o que o Homem de Lata queria era um coração, deve estar pensando na história de Dorothy e o Mágico de Oz. O novo Homem de Lata é diferente. Pelo menos era.
O novo Homem de Lata nasceu simplesmente homem, com um coração. E não foi o feitiço de uma bruxa que o fez diferente... foi o trabalho conjunto de várias e várias feiticeiras em sua estrada dourada.
Não levaram seu coração. O enfeitiçaram para que ele mesmo o pusesse de lado e trabalharam bem para que fosse esquecido.

Por isso o novo Homem de Lata é diferente do amigo de Dorothy.
O novo Homem de Lata não quer um coração.

Seduzido por sortilégios vívidos e coloridos, o Homem de Lata se gabava de sua condição. "Me tornei um homem sem coração", dizia ao Leão amigo, que não tinha coragem de lhe mostrar a verdade: sem o órgão, Homem de Lata jamais seria feliz. Ele morreria.
Se, com o novo Homem de Lata, quase tudo é diferente da história de Oz, o final, de certa forma, é invertido. Se lá o mágico não passava de um charlatão, aqui uma pessoa comum se torna a verdadeira mágica.
Os dois se conheceram numa dessas estradas que cortam os reinos. Seu nome: Nova Dorothy. Ela só queria voltar para casa. Ele, ser o senhor supremo das feiticeiras. E o acaso fez com que seguissem nessa mesma estrada.
Inevitavelmente conversaram. Inevitavelmente se conheceram. E ela, sem nem se dar conta do próprio poder, foi o antídoto. O novo Homem de Lata, pela primeira vez em muito e muito tempo, lembrou de seu coração, mas ainda não se lembrava onde o havia deixado.
Com o passar dos dias, já não queria mais ser o senhor supremo das feiticeiras, mas não se desviava de seu caminho porque adorava estar ao lado de Nova Dorothy.
Numa das paradas na beira da estrada, em um dos hotéis, só havia um quarto diponível. Eles não se incomodaram em dividí-lo. O novo Homem de Lata dormiu ao lado de Nova Dorothy e acordou outra pessoa, como se sua pele nunca tivera sido fria como o metal. Percebeu que seu coração estava de volta no lugar. Nem perguntou a Nova Dorothy como ela havia feito aquilo. Achava também que ela pouco saberia a resposta. Simplesmente havia acontecido.

Naquela manhã, ele, que só costumava tomar café amargo, e ela, que pedia sempre leite sem açúcar, dividiram um pingado com leite condensado. O sabor foi deliciosamente doce. Perceberam que não queriam outra coisa. Os dois davam certo juntos.

Nova Dorothy voltou para casa. Levou o novo Homem de Lata junto. Ele topou sem hesitar.

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* Pessoal,
como dizíamos ali do lado, eu e a Pri não tínhamos muito lá o que fazer quando começamos com o blog. Mas o fato é que temos tido muito a fazer. O site ficou de lado, principalmente de minha parte. Com esse texto, uma homenagem a um grande amigo — na verdade, um irmão — encerro as atividades do Balelas e Abobrinhas. A Pri já toca seus projetos pessoais na web e eu, quem sabe, volte um dia. Foi bem bacana escrever aqui.
Obrigado a todos que um dia passaram pelo B&A e se divertiram.
Daniel