quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Baseado em uma história que poderia ser a sua!

Oiráto chega frustrado e desolado em sua casa, joga-se em sua cama e materializa sua revolta em lágrimas urros, socos e contorções. Sua honra ficara a alguns quarteirões de distância – ele acabara de chegar de uma audiência. Uma história não muito complicada que o fez perder a esperança e a alegria.

Sim, Oiráto era um rapaz de uma família boa, recebera boa educação. É bem verdade que fez escolhas erradas em sua vida. Nos últimos tempos ele sentia como se anos de sua vida tivessem sido desperdiçados. Mas honestidade, lealdade, compromisso com a verdade sempre pautaram seus dias. O mês que se estava por terminar marcava um recomeço em vários sentidos para Oiráto. Contudo, este dia amanheceu. E lá estava Oiráto, sentado diante de um jovem arrogante vestido com uma capa muito mais feia do que a do Batman e uma cordinha roubada da cortina da casa de alguma avó – o juiz de direito. Este sujeito se parecia com aquele garoto que sempre fora zuado na escola, que nunca era convidado para as festinhas e, constantemente era escalado como gandula nas partidas de futebol – ou de qualquer outro esporte – nas aulas de educação física.

Com uma franja rebelde e mal penteada, Odipútse, em suas primeiras palavras já demonstrou que aquelas seriam horas das quais Oiráto jamais se esqueceria. Não era a toa que Odipútse estava com aquela fantasia. Ele colocava um ponto final nas discórdias entre os cidadãos de Atsob. Oiráto nunca tivera muito sucesso em Atsob, justamente por isso resolvera se mudar de lá. Mas, seguindo as regras de seu país, Oiráto compareceu à audiência. Ele não encarava aquele que o colocara no banco dos réus – o pai do Darth Vader. Era isso ou vomitar. Oiráto não era culpado pelo incidente que o trazia aquele lugar. Na verdade, até o discurso de Odipútse ter início, Oiráto sentia-se muito confortável, pensando apenas no que iria fazer pra aproveitar seu dia de folga depois de toda aquela chateação.

Apesar de ter se arrependido de tantas coisas em seu passado, Oiráto era um rapaz estudado, até mesmo com algumas experiências internacionais. Sua vida acadêmica e profissional era incomum contudo, interessante. Mas que valor há nisso quando se tem um representante da justiça divina, adequadamente aparamentado no exercício de suas des (cof cof) funções? Oiráto nunca tinha exagerado nas brincadeiras com os losers da escola. Mas que diferença isso faz? Naquele momento alguém ia pagar e Odipútse, de antemão, já decidira que esse alguém seria Oiráto!

Pode parecer espantoso, mas Oiráto era um especialista em retórica. Ele entendia e sabia muito bem como preparar e expor um discurso. Mas não era amigo do Batman e sua avó vivia constantes jornadas entre sua casa e o hospital – quem teria coragem de roubar uma parte das cortinas de uma velhinha assim? Por incrível que pareça, há mais ou menos um ano Oiráto conhecera alguém capaz de fazer isso – o pai do Darth Vader.

O fato era que as palavras de Odipútse eram intermináveis. Oiráto já não sabia que horas eram. Não há dúvidas que ele preferia uma tortura física ao que via e ouvia. Mas o próprio Odipútse já informara o pai do Darth Vader de que isso não seria possível. Diante do que se passava, Oiráto compreendia que Odipútse não queria mais um livrinho em sua estante e tentava de qualquer modo colocar um preço em sua honra – ou você faz um acordou ou corre o risco de superfaturar sua honra. “Ah, eu devia ter jogado na mega-sena semana passada”, lamentava Oiráto. “Nesse país a honra tem preço!” Essa era uma verdade que seria aprendida ali em questão de alguns minutos.

Injustiça seja feita e, em menos de duas infindáveis horas, Oiráto tinha vendido sua honra. Não porque ele não a prezara, mas porque não podia correr o risco de vê-la sendo usurpada a um preço impagável – para ele, rapaz de boa família e de valores (não monetários) que na prática, não valem nada.

Outras coisas foram aprendidas naquele dia calorento. Uma delas é que a justiça é um ótimo negócio. Oiráto aprendeu – a custo de tiras e tiras de seu lombo – que em seu país é legalmente possível prejudicar alguém e ainda ganhar uma mesada mensal daquele que você fez de bobo.

Acalme-se! Os valores de Oiráto não foram abalados! Quem sabe a honra seja como uma parede a qual se possa erigir novamente. É evidente que Odipútse subestimou sua capacidade intelectual e tratou Oiráto como um otário! Tão evidente quanto os conflitos que Odipútise tinha face a face com um Homem. Claramente o pobrezinho via em sua frente os meninos chatos que o chacoteavam na infância.

Ao final, resta amadurecer! Especialmente quando Oiráto encontra nas palavras do iletrado o conforto irracional: mais tem Deus pra dar que o diabo (ou o Odipútse... ou o pai do Darth Vater) pra tirar!

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Longa missão de longas


Decidi.
Tenho 72 filmes pra ver.
Não são quaisquer filmes. São os vencedores de melhor filme desde “...E o Vento Levou” (que levou mesmo em 1940).

A ideia veio primeiro dessa minha vontade de ver grandes filmes que eu nunca havia visto ou que só tinha visto quando criança. Nessa semana, me lembrei de Carruagens de Fogo. Sei que assisti, mas só duas informações ficaram na minha memória: primeiro, que era um filme sobre corridas. Segundo, a inesquecível música, que inclusive ficou associada posteriormente a maratonas e até aos Jogos Olímpicos.

Fui pesquisar, e “descobri”: o filme venceu os Oscars de melhor filme, melhor roteiro original, melhor figurino e melhor trilha sonora (é claro!).

Aí foi natural. Primeiro pensei em ver todos os vencedores. Desde 1929, foram 83 edições do Oscar. Se a conta não bate (2011-1929 = 82), é porque em 1930 foram duas premiações. Muito compromisso. Resolvi fechar um pouco o escopo.

Vendo a lista, pensei que não poderia deixar “...E o Vento Levou” (que nunca assisti) de fora. Assim passei a régua em 1940. Aproveitei para fazer a contabilidade e algumas curiosidades apareceram (os anos se referem à premiação, não ao lançamento).

- Já assisti a 26 filmes ganhadores do Oscar de melhor filme.
- A única década “completa” é a de 2000. Vi todos os vencedores dessa década. Nem mesmo a de 2010, só com dois filmes, tá completa. Estou devendo Guerra o Terror (2010).
- O filme mais antigo da lista é um de meus preferidos. O Poderoso Chefão, que levou em 1973. Os prediletos também incluem a sequência dele (1974) e A Lista de Schindler (1994).
- Não contabilizei os filmes que acho que assisti, mas que não tenho certeza. Entre eles está A Noviça Rebelde, que levou em 1966 e poderia, portanto, ser o mais antigo da lista.
- A década na qual eu nasci tem só dois filmes na lista: Carruagens de Fogo (1982) e Rain Man (1989).
- Desde Rain Man, aliás, só não vi três filmes. Além do já citado Guerra o Terror, não entraram Conduzindo Miss Daisy (1990) e Os Imperdoáveis (1993).
- A década de 1990 é a segunda mais “popular”, com oito filmes assistidos. Em seguida vem a de 1970, com cinco.

Não vou selecionar uma ordem para ver os filmes e provavelmente não verei todos, mas, talvez eu vá de trás pra frente (excetuando-se o primeiro, que será Carruagens de Fogo), começando por Guerra ao Terror, passando pelos dois faltantes da década de 1990 e por aí vai. ...E o Vento Levou e Casablanca terão privilégio, também.

Quem quiser dicas, depois, é só pedir.

domingo, 18 de setembro de 2011

Ler com os ouvidos


Estou lendo com os ouvidos.
Será que isso é bom?

Sou um amante da palavra no papel.
Aliás, os meios eletrônicos e até a e-ink do Kindle valem, mas os livros... bom, livros são livros.
Fico até meio desconfiado de quem escolhe não ler, sabe? Gente que estudou, que teve os meios, o acesso, mas que olha para um livro e diz que é muita coisa pra ser lida. Preguiça mental.

Por isso nunca havia ido atrás de um audiolivro. Pensei até arrumar algum pra ouvir preso no engarrafamento, mas ainda fiquei com a música mesmo (até porque ficar preso no trânsito não é algo, assim, que me acontece com regularidade). Agora, por causa do novo trabalho, em que falar, ouvir e escrever em inglês não só é necessário como é rotina, resolvi deixar o ouvido mais apurado. Como? Decidi pegar um audiolivro em inglês.

A princípio, fiquei meio ressabiado, com receio de "estragar" a experiência de um bom livro na voz de alguém o lendo para mim. Mas também não podia pegar qualquer livro. Já que eu vou ter que ler, mesmo que com os ouvidos, que seja um bom livro.

A escolha foi meio que natural. "Ice Cold", novo livro de Tess Gerritsen, autora que me conquistou nos últimos anos e que já citei aqui. Não o encontrei ainda em português e acho que ainda não foi traduzido. Botei os arquivos em um MP4 e comecei a ouvir no fretado, no caminho de ida e volta ao trabalho. E querem saber a verdade?

É uma experiência fantástica.
Ok, escolhi uma autora que gosto e com uma história muito bem contada (estou escrevendo aqui com vontade de estar "lendo" mais um pouco). Mas entendo que contribui muito para isso o excelente trabalho de Tanya Eby, narradora que descobri ter emprestado sua voz à leitura de dúzias de livros.

O trunfo de Tanya é agir naturalmente como narradora quando a voz é a do... narrador!, mas dar pequenas e diferentes impostações e entonações na voz quando os personagens falam. Ela não precisa da habilidade de Chico Anysio ou Tom Cavalcanti para criar dezenas de vozes diferentes. Com nuances da sua própria voz, consegue dar identidade a cada um deles, a ponto de eu já saber quem está falando já no início da frase.

De quebra, meu objetivo inicial foi alcançado. No primeiro dia, precisei me concentrar bastante para entrar na história. No segundo, já me peguei observando a paisagem entre Jundiaí e Hortolândia distraidamente, sem perder o fio da meada. No terceiro, era como se estivesse ouvindo em português. E o hábito de ler com os ouvidos foi ganhando espaço. Deixou de ser algo reservado apenas ao fretado para substituir meu antigo costume de ler antes de dormir. A diferença é que pude fazer isso com a luz apagada na noite passada.

E, no fim, descobri que ler com os ouvidos pode ser delicioso. Uma experiência que não é melhor nem pior do que um livro escrito, simplesmente porque elas não podem ser comparadas. São diferentes.

É verdade que, se eu tivesse que escolher entre ler Ice Cold com os olhos ou com os ouvidos, escolheria com os olhos. Mas não dispensaria mais com os ouvidos.