terça-feira, 25 de outubro de 2011

A Saga dos Filmes - parte 1



Eu já tinha contado aqui que decidi ver todos os ganhadores do Oscar de Melhor Filme desde 1940, quando o vencedor foi ...E o Vento Levou. A saga começou e três etapas foram vencidas. Facilmente, quero ressaltar.

Não adiantava, entretanto, ver 72 filmes sem fazer um registrinho acurado da coisa, atribuindo também uma nota de 1 a 5. Então aqui está a primeira leva, com os três primeiros. Vou tentar ser breve.

O Poderoso Chefão
Eu ia priorizar os filmes que ainda não vi. Mas, convenhamos, a cada vez que se vê O Poderoso Chefão há algo novo para descobrir. É quase como se fosse a primeira vez. E mesmo foi a primeira depois de eu ter começado a ler o livro que inspirou o longa. Aí se tem uma ideia um pouco melhor da grandiosidade desse filme, ao ver páginas e páginas transformadas em alguns minutos de película com a mesma carga de enredo, força e emoção. A direção seria fantástica por si só, mas quando se sabe que o filme quase não existiu, de todas as dificuldades da produção, entende-se como tudo conspirou para que nascesse essa obra prima. Assista sem sono. É preciso pegar todos os diálogos.

Ponto forte
Quase tudo é ponto forte, mas fiquemos com Brando e Pacino, fantásticos.
Ponto fraco
Só um, mínimo. O ator que faz Al Neri (o nome do personagem não é mencionado) não lembra, nem de longe, o que poderia ser o "novo Luca Brasi", nas palavras de Tom Hagem (a frase também não é falada no filme). A pose que ele faz pra matar Barzini é horrenda.
Nota: 5/5

Casablanca
Por que se fala tanto nesse filme? Porque ele merece. Vi pela primeira vez esta semana e perdi as contas de quantas cenas me fizeram ter vontade de aplaudir. As palavras escorrendo com a chuva num bilhete desolador. "La Marsellesa" sendo entoada quase como um ato heroico de guerra. Algo como o número 22. "As Time Goes By", a cada vez que soa. Há muito mais. Incrível como Bogart consegue ser tão expressivo... sem fazer quase. Incrível a simplicidade de rara beleza no sorriso de Ingrid Bergman. É difícil ter só um filme preferido, mas se o posto era ocupado pelo que está ali em cima, agora Casablanca, no mínimo, empatou. Preciso assistir mais algumas vezes.

Ponto forte
Roteiro magnífico e diálogos brilhantes.
Ponto fraco
Cadê? até agora, não achei.
Nota: 5/5

Os Imperdoáveis
Western é um gênero pouco presente em minha vida. Nunca vi nada dos antigos. Mas o que posso dizer é que esse é uma realização de Clint Eastwood. Tem a cara dele. Um boa história, bem contada, bem roteirizada. Tem uma grande atuação de Gene Hackman, que levou, aliás, a estatueta de ator coadjuvante. Merecido. Gosto mais do personagem dele do que o do próprio Clint Eastwood. Little Bill (interpretado por Hackman) tem as melhores frases do longa e não por acaso o escritor da trama fica fascinado pelo xerife.

Ponto forte
A cena de abertura já me ganhou, mas os detalhes na trama fazem a diferença (a miopia, a falta de talento na carpintaria, "bilhar no andar de cima").
Ponto fraco
O ritmo. Lento, acaba ficando um pouco arrastado para 2h10 de filme.
Nota: 4/5

Em breve tem mais.
Ainda estou com bastante vontade de ver Carruagens de Fogo. Conduzindo Miss Daisy e ..E o Vento Levou devem estar entre os próximos.

[Off-topic da semana]
Claro que vejo outros filmes além dos ganhadores do Oscar. A menção honrosa dessa semana vai para Máfia no Divã, que tem diálogos arrebatadores. Uma comédia de primeira grandeza. Aliás, que tem uma reprodução muito legal da cena em que Vito Corleone é baleado em O Poderoso Chefão (e vale lembrar que Robert de Niro, que representa o mafioso Paul Vitti, levou o Oscar de melhor ator coadjuvante ao interpretar o próprio Vito Corleone quando jovem  - ambos, de Niro e o padrinho eram jovens -, no segundo filme da saga).

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O que eu faço no trabalho

É difícil explicar.
Talvez porque eu trabalhe no limbo, no lado oculto e desconhecido da internet, que parece tão real quanto o outro lado do espelho, mas invisível para 99% das pessoas que eu conheça e talvez até mais que isso entre as pessoas que você conheça. Não é fácil explicar o que eu faço no trabalho, mas, em casos assim... sempre cabe uma analogia.

***
Seu carro morre, você dá partida e nada. Nada. Por sorte você conseguiu encostar. Por mais sorte ainda, você contratou um serviço que promete trazer alívio em casos assim. Não é um seguro. É outra coisa. É um suporte para situações adversas nas quais seu possante 1.0 te deixa na mão.
Mas cadê o telefone do pessoal desse serviço. Você não sabe onde guardou o cartão e talvez até não esteja totalmente seguro do nome da empresa que você contratou. Ainda pensando no que vai fazer, seu celular toca.

- Senhor Paulo Tangerina, aqui é o Joe Gameleira, da AutoServiços Proativos, tudo bem? Nosso sistema de monitoramento recebeu um alarme que seu carro parou e eu gostaria que o senhor soubesse que já estamos investigando. A propósito, o carro tem combustível?

Você responde que sim, meio tanque, impressionado até a tampa com a ligação. Ele continua.

- Ok, então eu vou engajar a oficina contratada para lhe prover o serviço para que eles façam uns testes. Logo eu já volto com novidades. 

Você espera um tempinho, olhando para os lados esperando ver um carro da oficina chegando, mas seu telefone toca de novo. 

- Senhor Tangerina, é o Gameleira de novo. O senhor pode dar partida, por favor?

Você pensa em dizer que ninguém fez nada, mas acha melhor dizer isso depois de ter dado partida. Para a sua surpresa, o carro pega.

- Voltou, né? Olha, a oficina fez uns testes remotos no seu carro e percebeu que era a bateria. Remotamente mesmo ela deu uma carga pra que você possa andar. Mas a gente precisa marcar logo uma janela pra substituir essa peça porque ela vai voltar a dar problema, numa hora em que você não for usar o carro. 

Você marca a tal janela pra mais tarde, resolve as coisas mais urgentes e, na hora combinada, o pessoal da auto-elétrica aparece na sua casa pra trocar a peça defeituosa. Tudo está resolvido.

***
Na rua de trás, Flávia Gulabi, outra cliente do serviço, vai sair de casa, mas nota que seu pneu está furado. Quase imediatamente, Jean-Charles Azteca a aborda com um cartão e uma chave.

- Dona Flávia, sabemos que você não pode ficar carro e, como seu contrato prevê um reserva, aqui está a chave. A troca do pneu é até rápida, mas já vamos fazer uma geral pra ver se tudo está mesmo ok. Enquanto isso, use o reserva, que não é tão confortável quanto o seu, mas resolve seu problema.

***
     Agora, vamos substituir: uma empresa tem escritórios espalhados pelo mundo (imagine que cada um é um carro!) e, quando um deles tem um problema em sua conexão com o mundo virtual (que também liga um escritório ao outro), aparece um alarme lá no meu computador (como o da AutoServiços Proativos!)
     Nesse momento, eu começo a investigar o que está acontecendo, antes mesmo do cliente reclamar que está sem internet ou ligação com outros sites. Posso descobrir, por exemplo, que a rede do cliente caiu porque ele está sem energia (combustível!) no site. 
     Em outros casos e, se for preciso, eu já engajo a operadora do cliente (a oficina!) que pode fazer testes remotamente para descobrir o que houve e solucionar o problema.
     Podemos também mandar um técnico no local para trocar um cabo ou alguma peça (bateria!), combinando sempre um horário que não vá impactar (ou pelo menos não tanto) o trabalho do cliente. 
     Por fim, muitos sites tem um link redundante para se ligar ao mundo virtual (o carro reserva!), que pode não ser tão rápido quanto o original, mas quebra um galho. E, quando eu falo mundo virtual, não estou me referindo exatamente à internet, mas ao que é chamado de nuvem (já ouviu isso?), um amontoado de cabos e equipamentos de nomes estranhos espalhados pelo mundo em salas bem fechadas e frias (essas coisas esquentam), que funcionam direitinho pra você, de qualquer lugar do mundo (talvez não na China) entrar no Face, ver vídeos toscos no YouTube, ler essas balelas e abobrinhas. Quer dizer, nem sempre funcionam direitinho. E é aí que precisam atuar pessoas que trabalham com o que eu trabalho.