segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Dr. Batista, vai ser menino ou menina?


- Acabei de confirmar! Eu estou grávida!

Juliana estava contando para a mãe que teria seu primeiro filho. Ou filha.
Para ter certeza, só lá pelo quarto mês, se o bebê ajudasse no ultrassom, etecetera e talz.

- Claro que não, amor, dá pra saber antes -, alertou a mãe.

Juliana já se preparou. Por mais que estivesse doida de curiosidade, não acreditava nas técnicas populares de segurar linha de lã sobre a barriga, olhar para a colher ou para a mão, contar as sementes de um mamão papaya maduro, pedir para o futuro papai quebrar um ovo para ver qual pedaço da casca ficaria maior e tudo o mais o que já ouvia falado. Mas ela nunca havia falado no Dr. Batista.

- Filhaaa, o Dr. Batista é melhor que o Herculano da novela O Astro. Ele acerta todas. Ele foi meu obstetra e acertou que eu teria uma Juliana, e não um Fabrício.

Juliana estava cética, mas, de qualquer maneira, precisaria mesmo de um obstetra. Se fosse um velho conhecido de sua mãe, melhor. Conseguiu um encaixe para a semana seguinte e, até o dia da consulta, ouviu muito sobre a fama e os feitos de Dr. Batista. O médico não errava nunca. Sempre anunciava seu palpite e ainda o registrava na ficha da paciente para não ter discussão.

Quando, por acaso, alguma mamãe contestava o resultado do ultrassom que mostrava uma minhoquinha entre as pernas do bebê, dizendo "mas você disse que seria menina", o obstetra apenas apontava a ficha intocada sobre a mesa, confirmando sua previsão feita meses antes: menino.

Por essa fama, o Tistinha - apelido que veio de outro apelido, Batistinha, o filho do Dr. Batista - já falava que seria médico. Virava e mexia ele estava lá pequena brinquedoteca sala de espera e passava despercebido, já que a clínica contava também com pediatras. Naquela tarde, Tistinha resolveu se aventurar pra dentro da sala do pai. Ficou à espreita e viu o médico dizer à secretária: "Traga a próxima paciente e peça que ela aguarde que eu já venho". Esperou o pai entrar no banheiro, a secretária sair para a recepção e esgueirou-se pra dentro da sala. Ficou no nicho entre o armário e a parede. Queria observar o que o pai fazia.

Mas quem entrou primeiro foi a secretária, trazendo Juliana.
A consulta se seguiu normalmente, foram feitas as perguntas habituais e, claro, Dr. Batista lembrou de quando a mãe de Juliana esteve em seu antigo consultório e de como ela ficou feliz ao saber que teria uma menina.

Então chegou o momento esperado. Dr. Batista olhou para suas anotações e alternou essas examinações com olhares nos olhos brilhantes de Juliana. Ali no seu cantinho, Tistinha observava tudo, tentando descobrir a técnica profética do pai (ainda que ele não tivesse a mínima ideia da existência da palavra "profética").

- Juliana, você vai ter uma menina.

Ela não sabia como ele poderia saber. Ele também disse que não sabia. Apenas tinha uma intuição.

- Não é garantido! É apenas um palpite. Graças a Deus eu tenho acertado ao longo de todos esses anos. Mas não é 100%. De qualquer maneira eu vou anotar na sua ficha pra gente ter guardado. Me-ni-na. Pronto.

Juliana se despediu e ficou de marcar retorno. Dr. Batista discou o ramal da recepção e pediu para a secretária esperar para chamar a próxima paciente porque ele tomaria um café rápido.

Assim que o pai saiu da sala, Tistinha correu para a mesa, curioso para ver a ficha que havia ficado lá. Ele não entendeu o que o pai tinha escrito e nem era por causa da letra, que até era inteligível (ainda que Tistinha não tivesse a mínima ideia da existência da palavra inteligível). Ele leu o que o estava escrito, só não entendeu porque aquilo estava escrito. Deu de ombros e saiu da sala.

Na ficha de sua nova paciente, estava anotado em letras maiúsculas de forma:
MENINO.