sexta-feira, 18 de junho de 2010

Felicidade sim


O tempo é remédio e carrasco

Dizem que existem coisas que só se resolvem com ele

E que mais cedo ou mais tarde ele resolve a gente


É claro que isso a quem ainde escreve e lê

Os que não podem mais não precisam de remédio

E após a execução podem zombar do verdugo


Tempo versus lápis

Me pergunto quanto tempo é preciso para se escrever um verso

Quando não se está mais à mercê de suas garras


Indagações à parte

Há lugar para esperança - que a letra vença o luto

E assuma o lugar do tempo na tarefa do sarar


É que falam que o tempo passa

Mas ele estava aqui antes de mim e tudo indica

Que mesmo depois que eu for ele ainda vai ficar


Fica então a gratidão

Que a letra do mago sare as feridas

Desses que ainda fogem das mãos do algoz.


Tristeza não tem fim. Adeus Saramago.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Que mãe que nada: padecer no paraíso é torcer pra seleção de Dunga




Acabou a primeira rodada da Copa do Mundo. E já começou a segunda no mesmo dia.

Eu poderia fazer um balanço do que aconteceu até aqui, falar, da pior média de gols da história de copas na primeira rodada (1,56 por partida), da dificuldade dos favoritos – e aí destaque para Suíça, time bisonho com gol bizarro, que fez a fúria espanhola virar um simples piti –, de vuvuzelas de plástico ou humanas (expressão de Diogo Mainardi), a mais corneteira delas Maradona.

(Parênteses titânico: de Maradona vale a pena falar um pouco. Hoje o técnico demonstrou toda sua empáfia, atirou para todos os lados e me lembrou o Titanic. Sim, o Titanic. Messi é sua casa de máquinas e ele, o próprio capitão Edward John Smith. Suas falas parecem a do panfleto da White Star Line, companhia do transatlântico, que dizia: "concebido para ser inafundável". Tirando os próprios Argentinos, creio que o mundo torce para que a imodéstia deslavada naufrague diante de um iceberg na Copa mais fria da história. Seria esse iceberg a Coreia do Sul? Descobriremos em algumas horas.)

Mas, entre tantos assuntos... vou falar de mim.
Afinal, até eu consigo ser tão interessante contra a seleção brasileira diante de adversários mais fracos.

É uma brincadeira, claro. De certa forma, com um fundo de verdade, pois vou avaliar o que escrevi há quase três anos sobre o time de Dunga. Nesse próprio blog fiz (péssimas) previsões sobre um jogo contra o Chile e, depois, analisei o resultado da partida.

Apesar de, para aquele jogo, eu só ter acertado que Robinho faria gol, muito do que eu escrevi ainda valeu para a estreia na Copa de 2010 contra a Coreia do Norte!

Vejamos:
O que ficou claro no jogo é que o Brasil depende de um homem só. Robinho é tudo.
A seleção de hoje tem mais destaques. Tem Maicon destruindo na lateral, Lúcio arrebentando na zaga, em um nível tão elevado que Juan, também um gigante, chega a ficar apagado. Tem também Julio César no gol (ainda sem trabalhar muito). Até Elano, que critiquei daquela vez, tem sido sinônimo de eficiência. Mas, convenhamos: Robinho é futebol brasileiro. É quem pega, vai pra cima, dribla, dá passe inteligente, põe fogo num time de frio a morno. Mesmo com listinha de destaques, ainda dependemos de Robinho.

(...) falta ligação neste setor do campo [meio]. Até o mais juninho jogador de Elifoot, um clássico dos jogos simples e divertidos, sabe que um time sem meio-campo é um time morto! E ter três volantes é ficar sem ligação entre defesa e ataque.
Falei tudo. Daquela vez. Ligação entre defesa e ataque é o que reclamo há três anos. Pra piorar, só temos Kaká em todo o elenco convocado como meia de criatividade. O bom é que os laterais-esquerdos jogam, há tempos, como meias. E tem o Daniel Alves, convocado como lateral direito, jogando um bolão. Mas enquanto Kaká não entra no ritmo e os laterais não são aproveitados no meio, dá-lhe chutão.

Mas em tudo há um lado bom. É o que dizem. E como futebol, por mais que tentem, não é um negócio que se explique direito (e não é essa a graça?) e por mais que a gente tenha sofrido ultimamente com a seleção – e saiba que tem muito mais a sofrer nessa Copa –, Dunga ganhou tudo como técnico. A gente meio que padece no paraíso.

Paraíso. Nas copas, ele tem forma de taça. E sabemos que só chegamos lá por meio da cruz.
Carreguemos, então, essa seleção.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Quem diz "CALA BOCA GALVAO"? | Just like a wavin' flag


Adoro piadas. Até as bobas. Ainda mais as inteligentes.
Por isso sou contra alguns exageros do politicamente correto – uma expressão, aliás, que é uma piada por si só.

Mas também tenho algumas ressalvas a outros exageros.

Para chegar onde eu quero, vou lembrar um caso que foi bastante comentado: a comparação do King Kong com um jogador de futebol feita por Danilo Gentili. A piada foi feita no Twitter:
"King Kong, um macaco que, depois que vai para a cidade e fica famoso, pega uma loira. Quem ele acha que é? Jogador de futebol ?"

Bom. A piada causou celeuma. Gentili foi acusado de racismo por muita gente.
Quando vi, pensei: "Gente... ele não falou qual era a cor do jogador na piada...".
Ah, mas acharam que o jogador deveria ser negro porque o King Kong é um macaco?
Peraí, então? O preconceito estava onde? Em quem escreveu ou quem leu? Se a cena clássica (e consequentemente a piada) tivesse acontecido com o Godzilla, que é sabe-se-lá-o-que, não haveria problema algum, então? Pra se pensar.

Enfim, não sei se virou alguma coisa. Sei que li, depois um post fantástico feito pelo Gentili em seu blog.

Agora temos em pauta uma outra piada iniciada no Twitter, essa de proporções globais (trocadilho!).
CALA BOCA GALVAO.

A expressão ocupou por uns bons dias o lugar máximo entre as mais digitadas no microblog. Hoje a expressão não estava no topo, mas aparecia ainda em segundo, atrás apenas do atacante paraguaio Roque Santa Cruz (que não fez nada no jogo contra a Itália. Vai saber como parou lá).

Até aí, tudo bem. O próprio Galvão Bueno levou a piada na esportiva.
Mas a piada não parou por aí.

Logo a expressão virou uma campanha internacional para salvar os pássaros Galvão e a campanha se tornou hit na voz de Lady Gaga (ou Lady GaGalvão, como diz a música).

É claro que a campanha e a música são piadas. Ok.
O problema é que a tal campanha foi vendida ao restante do mundo como sendo verdadeira e convocou os gringos a dizerem CALA BOCA GALVAO (assim, em maiúsculas) no Twitter para salvar as aves raras. E muitos brasileiros começaram a se gabar da habilidade de "enganar o mundo". "Brasileiros enganam o mundo de novo", comemoram.

Fazer a piada, ok. Muito legal. O vídeo é engraçadinho. E muito bem feito. A narração britânica e a utilização das cenas do filme Chico Xavier são excelentes sacadas.

Mas daí a "enganar o mundo"... é um pouco de exagero, não é?
Seria mais legal, acredito, fazer os gringos rirem da piada junto conosco. E entrar na campanha para fazer piada também.
Ou então, num caso nobre, aplicar o mesmo esforço para uma campanha verdadeira, que realmente valesse a pena, seja qual fosse (boa) causa.

Fazer a piada por fazer ou simplesmente porque ela está na moda deixa a gente "just like a wavin' flag" como diz a música da Copa, apontando para o lado que está o vento.

sábado, 12 de junho de 2010

Final de Copa: Brasil x Argentina


Apenas duas pessoas sagraram-se campeãs em uma Copa como jogadores e como técnicos. Zagallo e Beckenbauer. Em 2010, mais um se somaria à conta.
Esse duelo paralelo entre Dunga e Maradona era um entre tantos da final que estava para começar. Brasil e Argentina pela primeira vez decidiam o Mundial. A novidade coube à África do Sul, palco de uma Copa inacreditável.
Jogo truncado, com duas equipes se arriscando pouco, esperando um ataque para poder partir para o contra-ataque. E foi justamente em um contra-ataque que tudo aconteceu.
O Brasil finalmente pressionava, aos 30 do segundo tempo, quando Mascherano rouba a bola e faz um lançamento certeiro para Messi, que dispara sozinho para disputar a jogada com Julio César.
A bola quica uma única vez no chão e ganha altura. Lúcio corre atrás de Messi, mas o atacante continua à frente. A bola começa a descer. Ao seu encontro, Julio César e Messi sobem no ar.
Messi parece não ter chance. Mas a bola dividida no ar voa na direção do gol.
Gol da Argentina.
Gol de mão.
Num flash, vejo o Olé do dia seguinte estampar “La mano de Dios 2 – Argentina Tri”. Imagens na TV mostram Maradona pelado pelas ruas de Buenos Aires.
Minha visão volta ao campo. Messi corre para o banco de reservas para abraçar o técnico. Mas quem é aquele no banco? Que máscara negra é aquela?
Darth Vader! O que ele faz no banco da Argentina? Messi o abraça.
Darth Vader tira a máscara... e revela o rosto de Diego Armando Maradona. Ele puxa o ar e diz: “Messi... yo soy tu padre... qrrrsssssssssssssssss...”.
Acordo com dores. Sempre tenho pesadelos quando a ceia é farta.
Coisa para nunca mais se repetir em época de Copa.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Se os pais já não educam e os avós estragam, vai querer que o Tio (Sam) chame a responsabilidade?


Sou um fã um tanto quanto desnaturado do seriado Sex and the City.

Já assisti algumas temporadas e quando a série virou filme, me recusei a assistir! "Primeiro quero assistir a todos os episódios, depois vejo o filme".

Só que essa ideia de assistir a todos os episódios não se concretizou até hoje. E com o lançamento do 2° filme, entrei na onda da HBO e assisti O Filme.

Talvez uma das partes que mais gostei é quando Miranda (Cynthia Nixon) está no consultório de uma terapeuta com seu marido. O conselho é mais ou menos assim: "ou vocês colocam uma pedra nas coisas que aconteceram e seguem a vida, ou a vida é que não vai seguir".

Isso é ao mesmo tempo sensacional e óbvio! É a sabedoria do lugar comum.

O premiê de Israel, Binyamyn Netanyahu deveria ser apresentado àquela conselheira!

Tudo bem, a pessoa tem quer ser imbecil para negar o Holocausto, mas ele acabou, passou. Não bastasse seu terrível acontecimento, alguns esclarecidos sabem um pouco de como foi a criação do Estado de Israel.

Não bastasse o genocídio de 6 milhões de judeus no século XX teremos agora, homeopaticamente, a morte dos cerca de 1,5 milhão de habitantes da Faixa de Gaza? Será que tudo o que Hitler conseguiu ensinar aos judeus foi como matar inocentes? Sim, inocentes! Se todos ali fossem terrorista suicidas eles se explodiriam ali mesmo e, ainda assim, fariam um puta estrago!

O fator trágico/cômico disso tudo é que a relação EUA/Israel parece escrita por Glória Perez. Tente se lembrar do casal César e Ilana (Antonio Calloni e Ana Beatriz Nogueira, respectivamente) eles achavam lindas as barbaridades cometidas por seu filhinho Zeca (Duda Nagle). Seja honesto comigo! A coisa não é por ai? A Casa Branca parece não ter olhos para as atrocidades de Israel. E será que só tem esses dois adultos nessa bola azul? Pelo amor de nós! Alguém tem que fazer alguma coisa! Se os pais já não educam e os avós estragam, dependemos que o Tio (Sam) chame a responsabilidade!

O que parece ser irônico é que turcos - sim, aqueles mesmos do Império Otomano que até o começo do século XX levavam terror a muitos habitantes daquela região - foram mortos armados com remédio e arroz.

Tragédia, comédia, ironia etc, de tanta qualidade que nossos escritores só conseguem retratar. Nessas horas chego a lamentar que O Autor não faça uso do Ctrl Z.

sábado, 5 de junho de 2010

O monstro da janela



CHAMADA 1

— Bombeiros, emergência.

— Moço, socorro! Tem um monstro horrível aqui em frente de casa

— Calma senhora. Poderia informar seu nome?

— Moço... tá aqui na minha janela, com cima da árvore. SOCORRO!

— Senhora, peço calma. Como é esse... (titubeia).

— Monstro! É monstro! É preto! Tem uma espada que sai da boca. Os olhos parecem de vidro. Ele tá olhando pra mim. ELE TÁ OLHANDO DIRETO PRA MIM!

— Mantenha a calma, senhora. Pode me informar seu nome e endereço, por favor.

— Renata! Socorro!

— Renata Socorro?

— Não, moço, só Renata. Ou melhor, Renata Azambuja. Socorro é o que eu to pedindo.

— Ok, senhora Renata Abujamra...

— Azambuja!

— Certo, senhora Renata... qual é o seu endereço?

— Asas! Tem asas essa coisa.

— O quê?

— O monstro! Tem terríveis asas negras. Arrrrhhhhh.... acabei de ver!

CHAMADA 2

— Bombeiros, emergência.

— Ahhhhh! É a Renata de novo!

— A Renata Socorro?

— Azambuja! SOCORRO!

— Nós já enviamos uma equipe até aí. Devem estar chegando.

— Mas tem outro monstro agora... lá no chão... eu to vendo daqui.

— Ahn...

—Tem pernas enormes, compridas... e usa alguma coisa na cabeça. SOCORRO!

— Senhora Renata, a senhora usou algum tipo de psicotrópico nos...

— NÃO! Tem dois MONSTROS aqui! Um tá na minha janela, em cima da árvore! Outro tá no chão, correndo de um lado pro outro na rua... oh, meu Deus! OH, MEU DEUS!

— O que foi, dona Renata?

— Será que o pernudo tá procurando o da espada? Será que eles são inimigos? Será que vai ter uma batalha bem em frente ao meu prédio?... MEU CARRO! Meu carro tá na rua...

CHAMADA 3

— Bombeiros, emergência.

—Oi cabo Rogério. Sou eu de novo.

— Sim, Renata, o que é agora?

— Eu só queria agradecer o trabalho de vocês. Foram tão eficientes. To tranquila agora. Ufa!

— Que bom. Nós só cumprimos nosso dever.

— De onde vieram aquelas coisas?

— Humpf... De uma mata próxima à cidade. Houve bastante derrubada de árvore lá para a construção de um condomínio e é por isso que está tendo tanta fuga.

— Fuga?

— É, dona Renata. Mas tá tudo sob controle agora.

— É. Ufa. Assim me sinto realmente segura.

— Quem tá em segurança mesmo são o tucano e a siriema que resgatamos aí...

— Hã?!?

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Hoje, 5 de junho, comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. E não preciso dizer que “comemorar” não é lá o verbo muito adequado. Já ouvi muita história de gente que vive tão no concreto que nunca viu galinha e vaca, a não ser na TV de cachorro ou no espeto. Vivo, só por foto, na televisão, no computador, no cinema... Ou seja, a natureza vira quase uma ficção, uma coisa de Avatar. E mesmo que a pessoa não ache mesmo que tucanos são monstros nem pense que florestas não existem, ela não vê muito motivo em defender algo que está tão distante.

Está em voga, já há alguns anos e com crescente força, uma onda ecológica/sustentável. Penso que percebemos a tempo, que dá pra salvar o planeta (com o saldo negativo de mais algumas espécies extintas), especialmente com o envolvimento do pessoal do concreto que antes não ligava para isso. Mas principalmente com a participação de grandes corporações. É claro que cada um pode fazer sua parte, rejeitar produtos de empresas que não têm uma política sustentável etc. Mas, no fim, é o envolvimento da grande indústria que vai fazer a diferença, a meu ver.

Ainda acredito que o Dia Mundial do Meio Ambiente posse ser realmente comemorado, celebrado, festejado, e talvez nem demore tanto. E, fala a verdade: melhor do que se ele fosse transformado no Dia Mundial de Recordar o Meio Ambiente, não é?

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Vale a pena ler também um outro texto que escrevi, relacionado a isso, alguns anos atrás:

Begônias me mordam