sábado, 5 de junho de 2010

O monstro da janela



CHAMADA 1

— Bombeiros, emergência.

— Moço, socorro! Tem um monstro horrível aqui em frente de casa

— Calma senhora. Poderia informar seu nome?

— Moço... tá aqui na minha janela, com cima da árvore. SOCORRO!

— Senhora, peço calma. Como é esse... (titubeia).

— Monstro! É monstro! É preto! Tem uma espada que sai da boca. Os olhos parecem de vidro. Ele tá olhando pra mim. ELE TÁ OLHANDO DIRETO PRA MIM!

— Mantenha a calma, senhora. Pode me informar seu nome e endereço, por favor.

— Renata! Socorro!

— Renata Socorro?

— Não, moço, só Renata. Ou melhor, Renata Azambuja. Socorro é o que eu to pedindo.

— Ok, senhora Renata Abujamra...

— Azambuja!

— Certo, senhora Renata... qual é o seu endereço?

— Asas! Tem asas essa coisa.

— O quê?

— O monstro! Tem terríveis asas negras. Arrrrhhhhh.... acabei de ver!

CHAMADA 2

— Bombeiros, emergência.

— Ahhhhh! É a Renata de novo!

— A Renata Socorro?

— Azambuja! SOCORRO!

— Nós já enviamos uma equipe até aí. Devem estar chegando.

— Mas tem outro monstro agora... lá no chão... eu to vendo daqui.

— Ahn...

—Tem pernas enormes, compridas... e usa alguma coisa na cabeça. SOCORRO!

— Senhora Renata, a senhora usou algum tipo de psicotrópico nos...

— NÃO! Tem dois MONSTROS aqui! Um tá na minha janela, em cima da árvore! Outro tá no chão, correndo de um lado pro outro na rua... oh, meu Deus! OH, MEU DEUS!

— O que foi, dona Renata?

— Será que o pernudo tá procurando o da espada? Será que eles são inimigos? Será que vai ter uma batalha bem em frente ao meu prédio?... MEU CARRO! Meu carro tá na rua...

CHAMADA 3

— Bombeiros, emergência.

—Oi cabo Rogério. Sou eu de novo.

— Sim, Renata, o que é agora?

— Eu só queria agradecer o trabalho de vocês. Foram tão eficientes. To tranquila agora. Ufa!

— Que bom. Nós só cumprimos nosso dever.

— De onde vieram aquelas coisas?

— Humpf... De uma mata próxima à cidade. Houve bastante derrubada de árvore lá para a construção de um condomínio e é por isso que está tendo tanta fuga.

— Fuga?

— É, dona Renata. Mas tá tudo sob controle agora.

— É. Ufa. Assim me sinto realmente segura.

— Quem tá em segurança mesmo são o tucano e a siriema que resgatamos aí...

— Hã?!?

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Hoje, 5 de junho, comemora-se o Dia Mundial do Meio Ambiente. E não preciso dizer que “comemorar” não é lá o verbo muito adequado. Já ouvi muita história de gente que vive tão no concreto que nunca viu galinha e vaca, a não ser na TV de cachorro ou no espeto. Vivo, só por foto, na televisão, no computador, no cinema... Ou seja, a natureza vira quase uma ficção, uma coisa de Avatar. E mesmo que a pessoa não ache mesmo que tucanos são monstros nem pense que florestas não existem, ela não vê muito motivo em defender algo que está tão distante.

Está em voga, já há alguns anos e com crescente força, uma onda ecológica/sustentável. Penso que percebemos a tempo, que dá pra salvar o planeta (com o saldo negativo de mais algumas espécies extintas), especialmente com o envolvimento do pessoal do concreto que antes não ligava para isso. Mas principalmente com a participação de grandes corporações. É claro que cada um pode fazer sua parte, rejeitar produtos de empresas que não têm uma política sustentável etc. Mas, no fim, é o envolvimento da grande indústria que vai fazer a diferença, a meu ver.

Ainda acredito que o Dia Mundial do Meio Ambiente posse ser realmente comemorado, celebrado, festejado, e talvez nem demore tanto. E, fala a verdade: melhor do que se ele fosse transformado no Dia Mundial de Recordar o Meio Ambiente, não é?

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Vale a pena ler também um outro texto que escrevi, relacionado a isso, alguns anos atrás:

Begônias me mordam

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