quinta-feira, 31 de maio de 2007

(Parênteses)

Atenção. Daniel Dedo pede para avisar aos amigos navegantes que está sofrendo por todos nós durante esta semana lá no litoral baiano. Chato, não??! Em breve ele estará de volta e cheio de novidades (e um bronzeado de causar inveja). Aguardem!

Pais, filhos, escolas & escolhas

Quando eu era criança e de repente na rua, ou em algum lugar me deparava com um maltrapilho, um mendigo ou alguém pedindo esmola, ficava sem graça, meio triste por não entender a situação de tal pessoa. Meu pai dizia: “a gente não sabe o que essa pessoa fez na vida, suas escolhas, por onde ela andou e o que já fez de errado”. Ele queria dizer que eu não podia me sentir culpada pela situação daquela pessoa, porque certamente a mesma deveria ter feito algo errado na vida. Talvez.

Meus pais são pessoas maravilhosas. Nunca me deixaram faltar nada. Até mesmo agora, beirando os 30, desempregada, conto com a ajuda deles. Sempre tivemos uma vida simples, sem luxo, mas nunca nada nos faltou. Meu pai sempre dizia: “estude para que você seja alguém na vida e não tenha que depender ou mendigar algo para alguém”. Fiz tudo certinho, mas ainda não alcancei esta “independência” tão sonhada por ele e por mim.

Quando fiz jornalismo, após tentar três meses o curso de letras, entrei na faculdade com a certeza de que minha profissão iria fazer diferença na vida das pessoas, me imaginava fazendo grandes reportagens de impacto social, denúncias (sempre acreditei que a função do jornalista fosse a de voz da população), enfim, que seria um pessoa útil para a sociedade. Meu pai nunca me desmotivou, mas também não me apoiava. Ele dizia que era uma profissão muito ingrata (pai sabe das coisas).

Hoje no fim da tarde do dia mais frio dos últimos 10 anos em Curitiba, saí caminhar pelo centro da cidade e me deparei com os carrinheiros e os meninos e meninas de rua que viram os lixos em busca de algo para comer, de papel, recicláveis, etc.. É uma cena comum que me incomoda sempre. Dói. Tenho pena dessas pessoas – mas não gosto de ter pena. Hoje o frio deixou a situação mais cruel e triste. É como se eu fosse de alguma forma responsável por tudo isso. Meu tão sonhado diploma guardado em alguma gaveta há seis anos perdeu a utilidade naquele instante devastador. Engoli seco e frio.

Foi depois assistir a isso, sem poder fazer nada, que voltei para minha casa aquecida, fiz um lanche, me agasalhei melhor e lembrei do que meu pai disse quando eu era criança: “a gente não sabe o que essa pessoa fez na vida, suas escolhas, por onde ela andou e o que já fez de errado”. Então pensei comigo: “bom, certamente ela não deve ter tido a escolha ou a sorte de ter um pai generoso como eu tive”.

terça-feira, 29 de maio de 2007

"Amsterdam"

Eu preciso confessar que tenho um caso de amor desde 2001... com Coldplay (uma banda de rock formada em 1998 em Londres, Inglaterra, e conhecida por suas músicas melódicas e letras introspectivas). Normalmente ouço determinadas músicas de uma banda ou outra, depois canso, esqueço, volto a ouvir ou troco por outra. Enfim, nunca existiu uma regra. Não tenho discos nem pôsteres. Não faço coleção de fotografias nem acompanho músico ou banda alguma. Ouço de tudo um pouco (com exceção de pagode, samba, sertanejo, axé e música eletrônica) e sei alguma coisa sobre os músicos. Nos últimos dois anos me apaixonei por Pearl Jam e U2 como nunca (não me pergunte a razão). Posso afirmar que minha vida tem uma trilha musical.

Apesar do tempo, continuo amando Coldplay. Hoje me dei conta do quanto tenho sido fiel a essa banda. Zappeando a TV peguei o final de um show. A música? “Amsterdam”. Já ouvi essa música milhares de vezes, mas hoje ela tocou na alma. Parei finalmente para “escutá-la” e soou diferente. Chris Martin, o vocalista, tem um estilo único. Ele parece um boneco, uma marionete desgovernada, transpira, dança e inspira quando canta. A impressão que tenho é de que ele esquece de tudo quando sobe ao palco, não se importando com o que está ao seu redor naquele momento. A voz e o piano se misturam e hipnotizam. Adoro isso. Parece exagero, mas acho que vou passar mais cinco anos ouvindo as mesmas músicas, milhares de vezes e não vou enjoar. Cada vez parece ser a primeira.

Posso futuramente escrever sobre músicas específicas e momentos únicos que tive Coldplay como trilha, mas vou deixar para um outro dia. Hoje quero apenas compartilhar (com quem quer que esteja lendo minhas divagações) sobre a minha paixão por esse grupo, suas letras, suas canções e melodias. “Amsterdam” foi na noite desta segunda-feira gelada o fundo musical da minha inquietude com o mundo, insatisfação com o momento que vivo e da saudade de momentos que vivi.

"But time is on your side, its on your side, now
Not pushing you down, and all around
It's no cause for concern"

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Ausência

hoje
arranhei o quadro negro
mordi cebola crua com calda de chocolate
raspei o fundo da panela com o garfo

tomei banho gelado, chá de alho,
água quente e comi jiló refogado
adocei a comida
salguei o café

andei na areia quente
experimentei areia nos dentes
tirei pêlo do nariz
bati o cotovelo e o dedinho do pé
ouvi samba, pagode e axé

entrei no ônibus lotado
troquei pelo ônibus errado
paquerei um velho tarado
torci pelo time adversário

provei do pior
sem dó nem piedade
mas vou falar a verdade
nada é tão ruim
como você
longe de mim

domingo, 27 de maio de 2007

Muito além do virtual

Já faz quase dez anos do primeiro caso significativo pra mim: a moda da época, quando comecei a utilizar a internet, eram os programas de IRC (Internet Relay Chat). Foi num deles que conheci uma garota bem mais nova do que eu, mas que tinha um papo ótimo e idéias interessantes. Nos tornamos amigos. Bons amigos. Amigos de internet.
Nem havia muita distância entre a gente. Os dois moravam em Rio Preto na época (na verdade eu estudava em Londrina, mas vivia aqui), mas a amizade virtual ia beme não havia toda aquela necessidade de nos conhecermos pessoalmente.
Nos conhecemos. Uma visita à casa dela. Batemos papo como sempre. Depois disso, a amizade continuou pela rede mundial de computadores e assim ficou. Em todo este tempo, houve apenas uma segunda visita, no ano passado. Foram dois encontros pessoais e muitos virtuais. Nos falamos pouco nos últimos anos, mas continuamos amigos. A prova é que mantivemos contato, o que não aconteceu com outros amigos virtuais. Eu praticava, por exemplo, meu inglês com gente de Cingapura e das Filipinas e cheguei a trocar cartas (reais!) com uma garota filipina com quem perdi o contato e até hoje não reencontrei.
A moda dos IRCs passou (alguém ainda os usa?), mas outras formas de conhecer e conversar com pessoas pela internet a substituíram. Fiz novos amigos. Ou melhor, novas amigas. Sempre falei mais com mulheres. Elas são infinitamente mais interessantes, não?
Algumas conheci pessoalmente, outras não. Algumas até tentei conhecer, mas não deu certo. Outras, que imaginei nunca ver de perto, vi mais de perto do que poderia imaginar. Abracei quem mora longe e nem vi sombra de quem está perto.
Já houve vez que estive na cidade da amiga por outro motivo e não pude conhecê-la. Em compensação, já encontrei uma amiga virtual no meio da Bienal de artes em São Paulo, durante um café. Totalmente imprevisível.
Independente do conhecer pessoalmente ou não, é inegável que muitas continuam minhas amigas. Dão-me conselhos e eu faço o mesmo a elas, dividimos alegrias e desabafos, partilhamos bobagens e responsabilidades. Mais com umas que com outras, exatamente como nas relações pessoais (quero dizer... cara-a-cara).
Engana-se quem desacretida em reais amizades pela internet. Em minha experiência, posso dizer que, em alguns casos, elas vão bem além do virtual.

Sempre que possível, seja você mesmo

“Tá vendo, eu não falei?”
“Bem que eu te avisei!”
“Eu sabia que isso ia acontecer”
“Tá vendo, se você me ouvisse”
“Escuta o que eu estou te falando”
“Depois não diga que eu não avisei”

Quem nunca ouviu frases como essas acima? Mãe e pai as adoram. Alguns amigos também. Eles sempre conseguem nos castigar som seus “Eu não disse?”. Há alguns meses uma amiga dispensou uma vaga de trabalho muito interessante. Eu disse a ela que ia acabar se arrependendo. Um tempo depois ela me procurou para saber se aquela vaga ainda estava aberta. Claro que não! Claro que eu não resisti e soltei um: “Eu te falei que você ia se arrepender”. Ela ficou chateada com minha atitude e eu também. Minha “observação” não a ajudou em nada e pior, reforçou seu sentimento de derrota.

Por que fazemos isso? Por orgulho? Desejo de ter sempre a razão? Vaidade? Não sei. Acho que na maioria das vezes as pessoas mal se dão conta de quanto esta atitude é arrogante. Eu poderia ter olhado pra ela e simplesmente dizer: “Então, é uma pena, a vaga já foi preenchida, mas você vai conseguir encontrar outra, não desanime”.

Recentemente consegui superar isso ao reencontrar um amigo que se casou e depois de pouco tempo se separou. Na época estava na cara que ele não estava pronto para tal decisão. Tentei alertá-lo – em vão. Bom, ele se casou e agora está sofrendo por ter fracassado na sua escolha. Ao perguntar o que eu achava de tudo aquilo, eu consegui agir como um ser humano: “Faz parte da vida. Você fez sua escolha, arriscou, deu cara pra bater. Que bom que você tentou. Muitos nem tentaram. Você é uma pessoa mais experiente agora, não??!”. Nem preciso dizer que ele se sentiu confortado com minhas palavras. Nem foi necessário fazer muita força (também não podemos ser radicais ao ponto de ver um amigo se drogar, um familiar enfiar a cara na bebiba ou deixar o vizinho se matar e ficarmos sentados assistindo).

Durante anos (posso dizer que mais da metade da minha vidinha) deixei com que as pessoas me dissessem o que fazer e como fazer, pra onde ir, como agir e pior, permiti com que elas me colocassem pra baixo com seus “eu bem que te avisei”. Muitas e muitas vezes deixei de arriscar, de viver, de dar a cara pra bater, preocupada com o que meus pais, professores, igreja, líderes ou amigos haviam dito, seus avisos e conselhos ameaçadores. Passei anos paralisada pelo medo de errar e ter que ouvir um “eu não disse”. Não arrisquei com medo da derrota e mesmo assim saí perdendo.

Hoje, posso dizer que sou uma pessoa livre para tomar as minhas próprias decisões – por mais arriscadas e perigosas que sejam. Claro que respeito à opinião daqueles que considero importantes pra mim, mas não permito que eles tomem o controle da minha vida. E se eu errar? Bom, vou tomar o tropeço como lição para alcançar o triunfo.

É assim que se aprende a viver. É como uma criança que está aprendendo a andar. Não podemos proibí-la de tentar dar os primeiros passos com medo que caia (a queda é certa). Ela vai cair, mas irá também se levantar. Isso vai se repetir quantas vezes forem necessárias para que um dia consiga se manter em pé. Assim é nossa vida. Algumas vezes fazemos o papel de pais cuidadosos. Outras da criança que precisa aprender a caminhar. Como pais, precisamos ter sabedoria de permitir que nossos filhos (amigos, irmãos, namorado, marido, esposa, colegas de trabalho, etc.) se arrisquem e cresçam. E ao mesmo tempo cuidar para que nossa arrogância não os machuque ainda mais caso caiam. Como filhos, precisamos ponderar o que nos é dito e não permitir com que a opinião alheia, por melhor que seja a intenção, nos engesse e paralise nossos sonhos. Agora cabe a você pensar no que escrevi e tomar sua própria decisão. Fique tranqüilo, você pode concordar ou discordar, afinal, você é livre e a vida é feita de escolhas – certas ou erradas.

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Viver


Hoje terei de abandonar o título do blog e escrever seriamente.

(Do dicionário Aurélio)
Viver
[Do lat. vivere.]
V. int.
1. Ter vida; estar com vida; existir
2. Perdurar, subsistir, existir; durar
3. Passar à posteridade; perpetuar-se
4. Gozar a vida, sabendo aproveitá-la

Viver é subjetivo. Cada um o faz à sua maneira. Cada um, mesmo sem se dar conta, influencia e altera o viver do outro ao seu lado.
Assim, podemos dizer que diferentes períodos de vida são, cada um, uma vida diferente. Quem nunca disse frases como "Vida boa eu tinha na época da faculdade..."?.
Eu, a alguns dias dos meus 27 anos, ainda jovem, já tenho um bom conjunto de vidas vividas. Entre elas estão a infância hiperativa e divertida, a adolescência engajada em música cristã (principalmente no bom rock), a faculdade vencida com boa preguiça nas manhãs frias e bela dose de garra em momentos críticos.
Um pouco antes da faculdade começou a vida em que a primeira definição de viver, pelo Aurélio, fazia mais sentido. Um amor de verdade, como o que a Maira me deu, faz o ter vida, estar com vida e existir ter mais sabores. Na verdade, a Maira redefiniu o significado do verbo para mim. Pintou-lhe novas cores, abriu-lhe portas e janelas para um dia de sol, ampliou horizontes. Fez-me viver um amor que simplesmente se vive, não se explica, por mais poesia que exista.
Deste tipo de amor, entre as várias certezas há a de que ele vai perdurar (definição 2 do dicionário). Infelizmente, o objeto do amor não durou. Há um ano, em 29 de maio de 2006, falecia Maira. Depois de sete anos e dois meses de namoro, um ano, um mês e treze dias de casamento, ela deixava o ter vida para passar à posteridade, perpetuar-se em doces lembranças minhas, de seus pais e irmãs, sua família, seus amigos, seus colegas de trabalho, seus pacientes, seus conhecidos e até de uma série de desconhecidos. Se já não tem mais vida, vive em cada um de nós.
Meu rol de vidas ganhava mais um item, sob a mais brusca mudança, sem o chão para dar passos, sem rumo, sem certezas, sem saber, enfim, o que seria viver. Sem Maira.
Reconstruir o caminho para gozar a vida, sabendo aproveitá-la, foi o trabalho mais árduo já executado em todas as vidas que vivi. E ele ainda não acabou. O começo dessa estrada está pavimentado. Onde ela vai me levar, não sei ainda.

______________________________________________
P.S.: Se eu pudesse, gostaria de agradecer mais uma vez à Maira por cada simples gesto de amor que me deu, por me fazer tão feliz, por redefinir meu viver.
Agradeço, sim, a cada pessoa que me deu apoio neste último ano, seja dando o ombro, seja me ensinando um passo de dança sem sequer conhecer minha história. De coração, obrigado.

quinta-feira, 24 de maio de 2007

O que você sabe?

Eu vivo em crise. A mais comum é a que eu chamo de “crise de mediocridade”. Acho que eu a inventei. Não conheço ninguém que tenha passado por isso. Em inglês, “ordinay” seria uma boa palavra para definir esse “adjetivo”. Ordinary significa comum, normal, habitual, simples, sem cor, sem graça, superficial = medíocre.

É horrível ser medíocre. Sente só: eu sei um pouco de informática, me viro com os computadores, mas tudo muito superficial. Falo um pouco de inglês e bem menos de espanhol. Sei cozinhar mais ou menos, entendo de vinho mais ou menos, sobrevivo. Conheço um pouco de música, gosto de jazz, mas não me pergunte sobre nomes ou algo relacionado à história do jazz, não saberei responder. A mesma coisa sobre rock ou qualquer outro ritmo. Cinema? Adoro cinema, mas só posso te contar sobre os filmes que vi até hoje e gostei. O mais além que posso chegar é dizer que “a fotografia do filme é belíssima”.

Fotografia. Entendo um pouco de composição que aprendi na época da faculdade com equipamentos analógicos. Agora, se me perguntarem sobre máquinas digitais, lentes, equipamentos... o máximo que vou conseguir é ligar minha pequena digital e fazer uma foto. Esportes? Só sei que torço pelo São Paulo. Não me pergunte o porquê nem o nome dos jogadores. Só vou conseguir te dizer que o Rogério Ceni é um ótimo goleiro. Sobre moda? Humpf... não entendo bulhufas. Uma coisa eu garanto: jeans e All Star formam um casal perfeito. Casal, casamento? Tenho quase 30 e nunca me casei, meus namoros sempre foram complexos – pra não falar medíocres. Apenas posso dizer que pessoas são complicadas e os homens, uhhh, difícil é saber o que eles querem em um relacionamento.

Política, economia, cultura... A lista é imensa. Quase interminável. Chatíssima. Resumindo: como disse Sócrates (acho eu) “Só sei que nada sei”, frase sábia e emblemática. A minha esperança e desejo pra minha vida, hoje, é de viver o suficiente para um dia poder dizer:
“Só sei que muito aprendi”.

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Curitiba 0º

(Música para ler o post: U2 - Beautiful Day)
“Tá esfriando hein?”. “Falou na TV que vai chegar a zero”. “Eu ouvi dizer que vai chegar a -6º”. Só se falava nisso hoje. O frio está chegando! O povo na rua estava “tri-agasalhado” (como diria um gaúcho, não sei) esperando o frio que deve chegar somente nesta quinta e pode ficar mais forte na sexta-feira. A previsão é de que chegue a 0º aqui em Curitiba. O céu está limpíssimo, dá até para ver a lua e as estrelas – coisa rara aqui na capital – , sinal de que a geada já está batendo à porta. O mais curioso foi observar no rosto das pessoas certa ansiedade por esse friozão.

Pela primeira vez vou ficar feliz por estar desempregada. Não vou precisar sair de casa às 6h da manhã, como era de costume, e ter que dar de cara com a primeira geada do ano. Vou ficar debaixo das cobertas, isso sim. “A gente se fode mas se diverte”, como diria um amigo meu. Eu gosto de frio. Primeiro porque adoro duas coisas que são ótimas para serem apreciadas no inverno: café e vinho. No frio as pessoas ficam mais bonitas, mais elegantes, as cafeterias ficam lotadas e as “biscatinhas” enlouquecem. Por quê? Porque elas não podem usar seus modelitos vulgares de verão (rsrsrsrs). Assim meus olhos são poupados por alguns meses de tanta “obscenidade”. Ahhhhh, mas me lembrei agora de um amigo que jura de pé junto: “biscate não sente frio!”. Que lástima.

Meu programa favorito no inverno é sentar num banquinho da Rua XV, em um dia ensolarado, com céu azul e observar as pessoas que passeiam tranqüilamente. Mas tem que ser num sábado ensolarado de céu azul de inverno em Curitiba na Rua XV. É mágico. Vai me dizer que você nunca parou pra olhar as pessoas passando? Eu fico imaginando mil coisas: de onde elas vêm e para onde vão? Será que estão felizes ou estão tristes? Me pergunto se são casadas ou solteiras. Observo as roupas, os cabelos, as crianças, as sacolas... Gente bonita, gente feia, gente engraçada, gente mal-humorada, gente afetada ou educada... não importa! Pessoas são como livros, carregam páginas de histórias, algumas ainda em branco, esperando para serem escritas. Eu adoro observar gente. Você já leu alguém hoje? Experimente. Está sozinho? Então corre pra frente do espelho e olhe. Você pode se deparar com... pura poesia.

(Foto: Rua XV by João Carlos Frigério)

Prazeres da língua

Tenho uma amiga que foi morar nos Estados Unidos em agosto do ano passado. Dias antes de sua partida, resolvi testar seu inglês e fiquei assombrado.
In fact, ela sabia “dog”, “cat”, “hi” e “bye”. E olha lá se ela sabia isso tudo. Ensinei-a a falar “Do you wanna have some fun?” sem lhe explicar o significado. Ela achou que a frase tivesse alguma relação com ventilador porque confundiu “fun” com “fan” e foi.
Ontem à noite eu conversei com ela outra vez e, thank God, está falando o inglês bem melhor. Talvez até me ensine umas coisas. Isto é fascinante.
Viver cercada do idioma a deixou sem saída e ela teve de aprender. Conversando com ela, me lembrei de como eu pensava em inglês quando comecei a estudar espanhol. E dá-lhe “yes” e “ok” no meio da aula. O olhar fulminante da maestra me bastava como broma, digo, bronca. Com o tempo, me habituei a chegar pensando em espanhol na aula. Bastava que minutos antes eu ficasse gastando meu vocabulário com o vento, hablando solito.
Meses depois, decidi começar a estudiar francês. E lá chegava eu pensando em espanhol na aula. Me lembro de ter falado um “no me acuerdo”. Outra vez recebi um olhar reprovador da femme professeur. Resolvi usar a mesma tática, mas não tenho tanto vocabulário assim pra gastas em francês. Então ficava repetindo les mêmes frases.
Chegou uma hora que le jeu se revertió. Soltei um “oui” e um “je ne...” na clase de espanhol. Comecei a misturar as coisas, damn it.
Mas le chose fica funny mesmo cuando eu assisto a algum filme em outro idioma. Generalmente saio da projeção pensando na língua utilizada. Aí falo anglais com quem não devo, solto coisas in french que nem sei se estão certas e volvo ao español de Almodóvar.
O importante é não deixar o português de lado. Enquanto eu não abdicar do meu idioma pátrio, all right.

Auf Wiedersehen.

terça-feira, 22 de maio de 2007

Caça-níquel do bem


Aperte bem o cadarço da sua bota, ponha a faca na cintura e não esqueça de amarrar bem a insigne faixa vermelha sobre a testa, segurando os cabelos.
Pronto: quase todos que passaram infância e a adolescência nos anos 80 já tiveram um arroubo nostálgico. Sylvester Stallone sabe bem disso. Muito bem.
A onda nostálgica tem seu lado controverso. Como disse a Rita Lee ao se referir à volta de Os Mutantes, parece “um monte de velhinhos tentando arrumar uma grana pra pagar o geriatra”. Ok, ok. A Rita tem até razão. Soa como o tilintar das moedinhas engolidas pelo caça-níquel. Mas tem momentos em que uma maquininha dessas pode ser bem divertida, mesmo que você perca algum dinheiro com ela (cuidado! Isto definitivamente NÃO é um incentivo ao jogo! Os 50 dólares que deixei nas máquinas e na mesa de Black Jack de um cruzeiro marítimo que o digam...).
O dono do cassino, agora, é Stallone. Primeiro, o ator/diretor/roteirista desenterrou o pugilista Rocky Balboa. Agora, volta com John Rambo (se você por acaso esteve fora da Terra nas últimas duas décadas, os gestos do primeiro parágrafo são distintivos do veterano no Vietnã).
Ok, ok, Rita. Ele está fazendo isso pra ganhar um dinheiro lascado mesmo. Mas, nestes casos... vale a pena perder uma graninha no caça-níquel.
O filme Rocky Balboa, o sexto da série, deixou isso claro. Mesmo que alguns (vários) diálogos sejam sofríveis, o resultado final diverte. Não é bom como o primeiro (assitam o primeiro!), mas também não é asqueroso como o quinto.
Agora, pra repetir a fórmula, Rambo volta em um filme cujo nome, ao que tudo indica, será... John Rambo. Simples assim. E tenho certeza que não só eu, mas muita de gente está ansiosa para comprar as entradas pra ver aquela cara torta enquanto uma .50 ou similar é descarregada.
Falando nisso... você sabia que o primeiro filme do veterano só teve uma morte confirmada e três possíveis? E que o terceiro da série entrou para o Guiness como filme mais violento da história, com 108 mortes confirmadas e 221 atos de violência? O que esperar deste quarto, então? Bom... não sei se haverá violência em quantidade. Mas a “qualidade” será requintada. Basta ver o primeiro trailer lançado. Rambo está mau. Mas o caça-níquel é do bem, sem dúvidas.

Viva o "cusistencialismo"


Imagina isso: você fica puto com seu vizinho porque ele é um mala e decide se vingar: faz uma musiquinha para homenageá-lo, coloca no YouTube (pra tirar um sarro) e dias depois sua obra-prima vira o hit do momento. Sim, você finalmente vai ter seus 15 minutos (ou mais de fama). Foi isso o que aconteceu com a até então desconhecida humorista Cristiane Nicolotti, de 49 anos. Cris aparece em um clipe do YouTube cantando um “hino” de um verso só, com direito a coral virtual e até um dublê do Bob Dylan. O que ela canta? Ela simplesmente manda alguém tomar “naquele lugar”.

Em entrevista para a Folha Online ela explica que "O sucesso mostra que tá todo mundo de saco cheio", diz. O autor da preciosidade foi Caca Bloise, de apenas 57 anos e marido de Cris. Ele conta que compôs a melodia para um vizinho. O vídeo está na rede há cerca de duas semanas e já bate recorde de acessos. Isso sem contar as paródias, remixes e homenagens.

No dia 26 de junho ela estréia "Se Piorar Estraga", no teatro Frei Caneca, em São Paulo. O espetáculo, inspirado na ousada canção de Cris, narra a história de Roberléia, a vendedora que segue o "cusistencialismo", uma "corrente filosófica de libertação". A peça se encerra ao som do hino da "culosofia".

Eu adorei o vídeo da Cris e sou fã não só da Internet, mas do YouTube e de gente criativa. Isso mostra que as pessoas talentosas não dependem da Globo para fazer sucesso. Seja tosco ou não (cada um pensa como quiser), todo mundo tem direito de expressar sua opinião, mostrar o que sabe fazer, se divertir e ser feliz. Enfim, viva a Internet! E quem não gostou, quer saber? Vai tomar no... (lá mesmo, risos)

Pára o mundo que eu quero descer!


Algum dia você já teve a sensação de que tudo o que você planejou para sua vida deu errado? Eu ando assim faz tempo. Mas há praticamente um mês as coisas pioraram. Antigamente diria que é uma vontade de parar a filme, rebobinar a fita e começar tudo de novo. Mas, estamos em 2007, rebobinar a fita já está ultrapassado. Na verdade eu queria ser o Hiro, um japinha nerd da série “Heroes” que possui o poder de controlar o tempo. Enquanto todos os outros personagens estão surpresos ou preocupados com seus poderes, ele aceita seus poderes e os usa numa boa. Hiro pára tudo e coloca ordem na casa.


Eu queria poder parar o mundo e arrumar todas as coisas que não andam bem na minha vida. Sinto-me dentro do ônibus errado, mas o motorista corre pra dedéu e eu não posso descer. Minha vida parece uma novela mexicana sem final porque o Silvio Santos tirou do ar no último capítulo porque decidiu reprisar pela milionésima vez o "Chaves".

Ser humano deveria nascer com manual de instrução, não?! Principalmente seres complexos como eu. Mas, não me resta outra saída que não seja esperar. Enfim, uma hora a gasolina do ônibus vai acabar e o anta do motorista vai ter que parar. Já o último capítulo da novela mexicana em breve vai estar disponível no YouTube. Tudo bem. Não posso parar o tempo como o Hiro e voltar atrás para consertar o que ficou mal resolvido. Mas ainda me resta a opção de não deixar que o tempo me pare. Ok, já sei. No fim tudo acaba bem. Mas será que demora muito pra chegar?

Escrever é preciso

Escrever é preciso. Pra mim, pelo menos, é essencial. Não chega a ser indispensável no dia-a-dia, mas é absolutamente necessário. Não sei porque isso começou, mas na escola, minhas redações chamavam a atenção. Primeiramente por serem trágicas (nem queiram saber que tipo de coisa eu escrevia até a 4ª série). Depois por uma ironia muitas vezes dissimulada, nas entrelinhas. Tomei gosto pela coisa.
Hoje escrevo pra tudo. Desde os banais recados do orkut (alguns nem tão banais assim) até letras de música com uma poesia que talvez só eu entenda. Escrevo para desabafar, pra divertir (aos outros e a mim mesmo), e até pra paquerar (se alguma garota se interessar, eu mostro como...).
Talvez por gostar de escrever tenha virado jornalista. Mas a verdade é que gosto de redigir além do “hard” (ou seja: aquelas matérias que você lê dia após dia nos impressos). Sempre fui chegado ao texto de fim-de-semana, às palavras descontraídas, ao que o leitor pega porque quer, não porque precisa.
É por aí que vem o blog. Não espere um assunto fixo, nem mesmo um texto duro como este primeiro a ser postado por mim. Se um dia eu falar de música, no outro posso falar de esporte, e depois de dança de salão, mágica e ilusionismo, série de TV, cenas do cotidiano, filmes e mais filmes, amores e desamores, viagens, jogos de computador, trabalho e falta dele, amigos (muitos amigos), vinhos, bobagens, balelas e abobrinhas.
O que há de interessante nos meus textos? Talvez nada. Talvez tudo. Depende principalmente de quem lê. Pra mim eles valem, senão como leitura, ao menos como exercício. Afinal, escrever é preciso.

Até mais.