sexta-feira, 30 de julho de 2010

ele, ela, lhe, lha

É bem verdade que não há quem não a olhe quando ela entra. O tipo de mulher que tem uma presença que enche o ambiente. Evidentemente ele a viu no primeiro dia. Ela não deixa a ninguém a alternativa de não notar sua beleza. Ainda assim, para ele ela era apenas mais uma bela. Uma das mais belas mas mais uma bela.

Ele e ela se cruzaram diariamente, mas a nebulosidade nos olhos dele cobriam-lhe o brilho do sorriso dela; e isso durou! Quase como que uma estação do ano. E foi mesmo assim, como que numa mudança sazonal que as nuvens dos olhos dele se dissiparam. Sim, as nuvens não são nem eternas e nem estáticas. Mais cedo ou mais tarde elas se cansam e se mudam ou se atiram lá de cima.

Foi quando a névoa dos olhos dele deu lugar ao brilho do sorriso dela. Mas aos olhos dela o sorriso dela ainda era um mistério. "Como tantas nuvens podem desaparecer assim tão de repente?"Só quem viveu as tempestades dos topos dos montes conhece a força dos ventos que sopram por lá.

Agora, às portas de um novo verão, cheio de vida, vigor e renovação ele tenta explicar a ela a altitude em que enfrentava tempestades tão terríveis e como foi trazido à estabilidade pela instabilidade atmosférica.

Assustada por suas próprias tempestades ela se recusa a acreditar que tormenta tão grandiosa possa se dispersar tão rapidamente. Ela bem sabe quão longos podem ser os temporais. E ela não está enganada! Longas foram as agitações e muitos os relâmpagos e trovões. Mas tudo ocorreu distante de seus olhos. Apenas os últimos pingos molharam seus pés o que lha confundiu o fim pelo início.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Eu fico puto!

Eu fico puto!
Quantos são os otários como eu que enriquecem esse bando de filho da puta que vem cobrar uma conta que você pagou meses depois. Sabe porque isso acontece? Porque otários são desorganizados e num país onde você nasceu pra ser fudido esses idiotas ficam ricos sugando cada centavo que você não tem.

Eu fico puto!
Porque eu vivo num país desgraçado onde quando um velho filho da puta bate no seu carro você é orientado a fazer um acordo. MANO, EU TÔ CERTO! COMO VOU FAZER UM ACORDO? Não vejo outra alternativa a não ser concordarmos com o seguinte: PAGUE O MEU CARRO, VIADO!

Eu fico puto!
Porque não apenas a VIVO quer sugar o último fôlego de vida da sua garganta. A TVA, por volta de um ano e meio depois de você cancelar e pagar o seu contrato, vem te cobrar uma dívida QUE NÃO EXISTE! Sabe porque eles fazem isso? PORQUE JÁ DEU TEMPO DE VOCÊ MUDAR DUAS VEZES DE CASA, SE SEPARAR DA MULHER E TER JOGADO FORA A PORRA DO COMPROVANTE DE PAGAMENTO.

Eu fico puto!
Porque não tenho alternativas! O que vou fazer? Vou parar de comer pra engordar esse bando de urubus?

Eu fico puto!
Porque se eu cruzar na rua com o presidente de uma dessas empresas não tenho a menor condição de quebrar a cara deles. Por que? Porque ninguém sabe quem esses viados são! Eles te roubam e te fodem no anonimato!

Eu fico puto!
E é por isso que mando esse recado pra vocês que comprar produtos de beleza fazendo a caveira de otários como eu:
VÃO TODOS TOMAR BEM NO MEIO DO SEU CÚ!!!

sábado, 24 de julho de 2010

A primeira lembrança do futebol

Sabe-se lá porque, fui começar a gostar de futebol muito mais tarde que as crianças costumam nesse país. Até existe uma foto de quando eu era bem pequeno com uma camiseta que estampava o escudo de um clube, o Atlético Mineiro. Sim, eu, nascido no interior de São Paulo, sem família em Minas, com uma camisa do Galo. Diz minha mãe que é porque estava em promoção. Mas não era mesmo algo pelo qual eu me interessasse. Naquela época, eu gostava de Fórmula 1 (e dá-lhe Ayrton e Piquet).

Bom, eis que eu tinha, pra mim, uma triste primeira lembrança de uma partida de futebol. Um choro de criança. Um choro de criança que não entendia patavinas de futebol, mas estava lá torcendo pelo Brasil em seus pênaltis diante da França na Copa do México. Pois foram aqueles pênaltis que tiraram a seleção da copa me fizeram gritar em prantos um idílico "tem que dar mais uma chance, tem que dar mais uma chance".

Digo idílico pra não dizer ridílico. Ops, ridículo. Na minha fantasia, tinha razão de ser. Como profundo conhecedor das regras estipuladas pela International Board e pela FIFA, eu acreditava que era o árbitro quem determinava quantas cobranças seriam feitas. Então, era natural que fossem pedidas mais uma ou duas cobranças ali, pra ter certeza que era a França quem merecia se classificar. Ah, eu tinha 6 anos.

Triste primeira lembrança de uma partida. Uma desclassificação da seleção brasileira em Copa do Mundo. Que coisa.

Naquele ano eu tive uma festa de aniversário muito legal, temática, justamente sobre futebol. Considerei-a legal já na ocasião não porque o esporte me encantasse, como já relatei, mas pela magnificência do bolo: um campo de futebol completo, com 22 bonequinhos, 10 deles com camisas amarelas e shorts azuis e 10 com camisas vermelhas (os goleiros provavelmente usavam outra roupa, mas não lembro). A bola caprichosamente arranjada repousava nas redes do time adversário.

No mesmo dia da festa, feita em um clube, o Brasil venceu a Polônia por 4 a 0.
Mas foi só esses dias que eu me dei conta que essa era, na verdade, minha primeira lembrança de uma partida de futebol.
Faço aniversário em 7 de junho. Se aquele era um jogo de copa, como eu achava que era, só podia ser ANTES da eliminação para a França. Resolvi pesquisar e (re)descobri que foi mesmo, uma partida antes, nas oitavas de final da Copa de 1986. A partida foi no dia 16. Confirmei com minha mãe: a comemoração foi mesmo com atraso para coincidir com o jogo.

Não me lembro o que ganhei de presente. Mas o presente que ganhei agora, 24 anos depois, foi ver que minha primeira lembrança de uma partida de futebol não foi uma desclassificação de copa, mas uma goleada.

Minha relembrança coincide com um período em que a seleção caiu, de novo, nas quartas. Assume o comando, agora, Mano Menezes, que na primeira convocação já tenta fazer uma reviravolta.

A gente não sabe o que vai dar. Mas espero sinceramente que Mano e a seleção consigam cavar a memória e colocar em campo um futebol belo, vistoso e vitorioso, capaz de apagar o choro amargo e nos deixar lembranças doces como goleadas.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Bolsa campanha

— Etibaldo, vem cá.

— Chamou?

— Senta aí. Precisamos conversar… algumas coisas vão mudar por aqui.

—Mas senhor… o senhor não pode me demitir, não, senhor. Lá em casa as contas num cabem no salário… se eu for…

— Não é isso Etibaldo. Fica calmo. Primeiro eu queria dizer que você é o tipo de pessoa que a gente precisa aqui e então eu decidi te recompensar melhor, te dar esse voto de confiança. Então vamos lá… quanto você ganha?

— 800 dinheiros, senhor.

— Não precisa me chamar de senhor. Agora vamos ficar de igual pra igual. Me chame de Aníval. Quanto você acha que seria um bom salário pra você Etibaldo.

— Ah, senh… …. seu Aníval. Eu fico até sem graça sabe? Mas uns 1200 dinheiros já me ajudavam muito.

— Quantos filhos você tem?

— Dois, sen.. seu Aníval.

— Então coloque os dois na escola particular. Você vai ganhar, agora, 2400 dinheiros.

— Obrigado, s… seu Aníval. Nossa… meu sonho era dar educação melhor pros meninos…

— Tem carro, Etibaldo?

— Tenho um Del Rey, mas ele bebe muito. Venho de ônibus. Gasto o dobro do tempo, mas economizo…

— Nã-nã-não, Etibaldo. Vende esse Del Rey velho aí, pega o der, junta com esses 1000 dinheiros que eu vou te adiantar aqui, dá entrada num Golzinho e me traz o valor das prestações que eu te dou adicional. E mais o que você for gastar de combustível. Você tem que vir trabalhar de carro, Etibaldo. E ainda vai ter mais tempo pra ficar com a família.

— Seu Aníval… nunca ninguém fez uma coisa dessas por mim. Pode ter certeza que eu vou ser o funcionário mais trabalhador e honesto aqui, seu Aníval. Pode apostar.

Um ano mais tarde, Etibaldo pediu as contas, recebeu um ótimo acerto e juntou a grana com todos os dinheiros poupados no período: os filhos nunca puseram os pés em uma escola particular. O transporte nunca deixou de ser o ônibus. Na casa de Etibaldo, ninguém vira uma nota a mais de dinheiro. A falsa parcela do carro, que jamais fora comprado, e o valor do combustível foram meticulosamente depositados em uma conta. Com a bolada conseguida em 12 meses, Etibaldo abriu sua própria empresa, concorrente de Aníval. Com táticas agressivas de mercado, levou o ex-chefe à falência em poucos anos.

Com o bolso cheio de dinheiros, Etibaldo quis mais. Então decidiu ser deputado.

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A campanha eleitoral já começou e, por isso, resolvi republicar esse texto escrito em outro blog, na época do escândalo conhecido como "farra das passagens aéreas", em que deputados foram acusados de vender bilhetes de sua cota parlamentar.

Pesquise os envolvidos nesse e em outros escândalos antes de apertar os numerinhos da urna nesse ano.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Funesta ficção, chocante realidade

Foi uma vendedora que se tornou amiga, de tão boas indicações, quem me apontou os livros de Tess Gerritsen. Virou um nome certo em minha estante. Hoje, precisamente, passei por 90 páginas de leitura sem esforço, na sala de espera da médica, que por ter esse nome já me faz pensar sempre em ter um livro à disposição – leitura bem mais aprazível que revistas antigas ou de laboratórios farmacêuticos. Esta é a quarta obra assinada por ela que leio. Por acaso, se chama "O Jardim de Ossos".

O enredo começa com uma mulher recém separada que compra uma casa com grande terreno e resolve dar um jeito no jardim. Quando começa a cavar, descobre que, em vez de um quintal, tem um sítio arqueológico. Ali ela encontra o esqueleto de uma mulher com marcas no crânio, indício de assassinato. Ela resolve descobrir quem era aquela mulher e porque ela fora enterrada tão rasamente ali, onde agora deveria ser sua área de lazer.

Fico imaginando essa cena ocorrida com qualquer um de nós. Encontrar ossos humanos ao sulcar a terra para plantar flores e arbustos; comprar uma propriedade e, na reforma, e descobrir restos mortais concretados em uma parede. Tenebroso.

Mais tenebroso, entretanto, que a ficção é a realidade. E é triste saber que parte da funesta narrativa do livro pode se apresentar assustadoramente tão perto, nos fatos que não saem da mídia, dominam os telejornais e até os programas matutinos, estampam manchetes em jornais impressos e virtuais, inspiram piadinhas de um humor dolorosamente negro, ainda que sejam apenas piadinhas.

Nesse flerte horrendo entre criações artísticas e as notícias nefastas, lembrei-me ainda de uma cena de Snatch - Porcos e Diamantes em que corpos eram atirados a uma certa espécie de suínos, capaz de deglutir carne e ossos e fazer cadáveres desaparecerem como se nunca tivessem existido.

Indubitavelmente a inventividade humana poderia criar uma trama em que uma jovem como Eliza Samudio ficasse grávida de um ídolo do clube mais popular de futebol do país do futebol, como o goleiro Bruno, do Flamengo, e já tendo dado à luz esse filho fosse cruelmente morta, esquartejada, seus pedaços jogados a pit bulls raivosos e seus ossos concretados. Mas é pesararosamente difícil crer que essa mesma inventividade humana seja capaz de, além de criar, executar uma obra tão hedionda, como os indícios e depoimentos levam a crer.

Tais fatos extrapolam a concepção de humanidade (descrita na acepção de número 2 do Houaiss como "sentimento de bondade, benevolência, em relação aos semelhantes, ou de compaixão, piedade, em relação aos desfavorecidos").

Na ficção, o sofrimento é enclausurada com o último ponto final.
Na realidade, infelizmente, os pontos finais são o início do sofrimento.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A seleção, quem faz, é você!


Acabou-se a Copa para nós. O Brasil tomou dois gols da Holanda, foi desclassificado, voltou pra casa e Dunga foi demitido.

Ninguém foi recebido com festa — a Argentina, registre-se, mesmo perdendo por 4 a 0, foi recebida com glórias. Por que? Porque a seleção deles foi feita com a cara e o espírito do torcedor.

Já a base do time que nos representou foi o comprometimento, mesmo que o talento não fosse lá essas coisas. Ou seja, o Rabiola, que joga em todas as posições - menos no gol - do Matinha, time da disputa a série B do amador, e é o cara mais comprometido do racha, ainda que seja um perna de pau, poderia ter sido convocado. Assim como eu ou você.

Voltando ao espírito do torcedor: foi pensando nele que a CBF tomou sua mais nova decisão. O torcedor será o técnico. A cada vez que for necessário, todos os torcedores serão conclamados a votar e escolher de tudo. Com a internet 2.0, decidir substituições, por exemplo, vai ser uma tarefa muito rápida (com certeza mais rápida do que a apresentada na última Copa).

Para se ter uma ideia da dimensão do poder que está nas mãos dos torcedores, na próxima Copa, toda a escalação será feita pelo povo. É isso mesmo! A partir de agora, somos mesmo milhões de treinadores e poderemos convocar quem a gente considera melhor.

Imagine se, pra essa Copa que passou, a gente já pudesse ter feito isso.
Na sua seleção, quem seria convocado? Ganso, Neymar, Ronaldinho Gaúcho?
Quem teria ficado de fora? Precisa citar?

E como os torcedores farão sua escolha? Simples: pelo voto.
Tenho certeza que, sendo essa um escolha tão importante, o torcedor não vai levar em conta apenas o "comprometimento" (leia-se "promessas"). Vai ser preciso mostrar serviço em campo, conhecimento das regras do jogo, domínio de bola, boa troca de passes com companheiros de outras posições e, claro, fazer gols a favor ou impedir os contra.

Então a seleção se tornará a cara do povo brasileiro.
E, todos juntos vamos, pra frente Brasil.

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ERRATA:
O texto acima apresenta algumas imprecisões.
Em vez da CBF, quem garante o direito ao voto é a Constituição.
Em vez de torcedores, leia-se eleitores.
Em vez de jogadores da seleção, é possível escolher os governantes do país.
A medida não é assim tão nova. Voltou a valer em 1989.
Este ano mesmo tem convocação, ou melhor, eleições.
Em vez de quatro anos de preparação para um mês de competições, a competição ocorre em alguns meses e os vencedores continuam no poder por quatro anos (isso se não sofrerem lesões ou forem suspensos ou expulsos por indisciplina).

RECOMENDAÇÃO FINAL:
Escolha seu governante com cuidado.
O resultado pode trazer mais alegrias que uma Copa do Mundo. Ou mais tristeza.