sexta-feira, 28 de maio de 2010

Garça, o craque do ludopédio



Garça. Ele era o cara.
No Campeonato Brasileiro de 2117, não teve para ninguém. Foi disparado o melhor jogador em todos os fundamentos. Passes certeiros, cobranças de lateral e escanteio perfeitas, posicionamento a prova de impedimentos, um astro.
No futebol do século 22, ainda não surgira alguém tão completo quanto ele. Eficientíssimo, como exigiam todos os professores e torcedores. Futebol de resultados. Ele trazia os resultados.
Sua equipe, o iPhute, patrocinado pela marca líder dos aclamados nanocomputadores holográficos, tivera 98% de aproveitamento no campeonato. Um feito.
Um dos pontos percentuais perdidos se deve apenas a um zagueiro que, tomado por um impulso vinticentista, decidiu dar um drible no campo de defesa e perdeu a bola.
O outro ficou por conta de um erro da arbitragem. Depois de uma jogada confusa na pequena área, o goleiro do iPhute tirou uma daquelas bolas que parecem sair de dentro do gol, difíceis de saber se cruzaram ou não a linha da meta. O árbitro auxiliar, que não podia contar com recursos tecnológicos e teve de se desfazer até mesmo de suas lentes de contado que permitem zoom e acesso a informações na internet 32G, validou o gol. Mas depois foi facilmente comprovado que faltaram 12,54756 milímetros para que a bola cruzasse a linha por completo. Um erro monstruoso nas eras atuais.
Nada, porém, que abalasse a glória de Garça, já chamado de novo atleta do século e entronado como rei supremo do gramado artificial (mais macio e barato que o natural), jogador suficiente, sozinho, para trazer o 14º caneco para o Brasil na Copa de 2118, realizada na Micronésia, que já listava entre os três países mais ricos do mundo pelo tesouro em petróleo descoberto em sua camada ante-pré-sal.
Antes da Copa, o último amistoso, contra a Espanha, que chegara a fazer algum sucesso e conquistar um título no primeiro quarto do século 21, mas que agora ainda tentava se recuperar dos 22 anos de suspensão de todas as competições mundiais pela recusa em acabar com as touradas, o que só havia acontecido cinco anos antes.

Garça dava mais um show. Jogador sério, sem firulas, como a mídia e a torcida adoravam, dono de passes rápidos, sem jamais carregar a bola por mais que alguns pares de metros, evitando o encontro com o adversário.

Foi então que tudo desabou.

Aos 33 do segundo tempo, Garça disparou (em posição legal) para receber a bola na frente, já na ponta da grande área. Em vez de chutar a gol, entretanto, como sempre fazia com perfeição, sucumbiu à chegada do zagueiro que lhe perseguia.

Com um toque sutil por baixo da bola, fez com que ela descrevesse uma parábola sobre a cabeça do adversário que, por impulso, se virou para tentar o desarme, mas viu a bola passar entre suas pernas em mais uma peraltice de Garça. Para completar, o craque deu uma pancada de chapa na bola, que passou pertinho do ângulo direito e estufou a rede.

Garça já ia sair para comemorar quando viu que o árbitro vinha em sua direção com fogo nos olhos. Recebeu o cartão vermelho. Foi chorando para o vestiário e não teve condições emocionais de voltar ao gramado, nunca mais. Nem à Copa foi.

Mas também, aplicar um chapéu seguido de uma caneta com bola no ângulo era mesmo demais. Uma humilhação tremenda para o adversário, punível com cartão vermelho direto e talvez até suspensão na Justiça Desportiva.

Jogadas como aquela haviam acabado em meados do século 21, quando se percebeu que o chamado "futebol arte" nada mais era do que provocação, um intuito deliberado e quase criminoso de humilhar o adversário.

Depois disso, Garça abriu uma escolinha de ludopédio, um esporte muito parecido com o futebol, mas ainda assim totalmente diferente, em que o objetivo era demonstrar habilidade com a pelota. Os alunos começaram a perceber o quanto era legal fazer um simples drible, quem diria então um elástico. Com o passar das décadas, a escolinha de Garça cresceu e se tornou um império e sua arte se uniu ao antigo esporte.

Assim renasceu o futebol.

Garça morreu com 82 anos, dois dias depois de ver o time que fundara ganhar o primeiro campeonato nacional do novo futebol. Morreu feliz, como se acabasse de conquistar uma Copa.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

De volta

Encerrar um blog e dizer que um dia, talvez, quem sabe, se tudo der certo, se tiver mais tempo, etecetera e tal, volte geralmente é adeus. A volta fica só na promessa.

Mas o Balelas e Abobrinhas voltou. Nova cara (ainda vai melhorar), novos integrantes e, como diria o comercial do novo Uno, novo tudo.

Aqui vão entrar histórias irreais que bem poderiam ser verdadeiras e histórias verdadeiras que nem parecem reais. E as duas coisas misturadas.

Vai ser bem legal.
Volte sempre.