domingo, 27 de maio de 2007

Sempre que possível, seja você mesmo

“Tá vendo, eu não falei?”
“Bem que eu te avisei!”
“Eu sabia que isso ia acontecer”
“Tá vendo, se você me ouvisse”
“Escuta o que eu estou te falando”
“Depois não diga que eu não avisei”

Quem nunca ouviu frases como essas acima? Mãe e pai as adoram. Alguns amigos também. Eles sempre conseguem nos castigar som seus “Eu não disse?”. Há alguns meses uma amiga dispensou uma vaga de trabalho muito interessante. Eu disse a ela que ia acabar se arrependendo. Um tempo depois ela me procurou para saber se aquela vaga ainda estava aberta. Claro que não! Claro que eu não resisti e soltei um: “Eu te falei que você ia se arrepender”. Ela ficou chateada com minha atitude e eu também. Minha “observação” não a ajudou em nada e pior, reforçou seu sentimento de derrota.

Por que fazemos isso? Por orgulho? Desejo de ter sempre a razão? Vaidade? Não sei. Acho que na maioria das vezes as pessoas mal se dão conta de quanto esta atitude é arrogante. Eu poderia ter olhado pra ela e simplesmente dizer: “Então, é uma pena, a vaga já foi preenchida, mas você vai conseguir encontrar outra, não desanime”.

Recentemente consegui superar isso ao reencontrar um amigo que se casou e depois de pouco tempo se separou. Na época estava na cara que ele não estava pronto para tal decisão. Tentei alertá-lo – em vão. Bom, ele se casou e agora está sofrendo por ter fracassado na sua escolha. Ao perguntar o que eu achava de tudo aquilo, eu consegui agir como um ser humano: “Faz parte da vida. Você fez sua escolha, arriscou, deu cara pra bater. Que bom que você tentou. Muitos nem tentaram. Você é uma pessoa mais experiente agora, não??!”. Nem preciso dizer que ele se sentiu confortado com minhas palavras. Nem foi necessário fazer muita força (também não podemos ser radicais ao ponto de ver um amigo se drogar, um familiar enfiar a cara na bebiba ou deixar o vizinho se matar e ficarmos sentados assistindo).

Durante anos (posso dizer que mais da metade da minha vidinha) deixei com que as pessoas me dissessem o que fazer e como fazer, pra onde ir, como agir e pior, permiti com que elas me colocassem pra baixo com seus “eu bem que te avisei”. Muitas e muitas vezes deixei de arriscar, de viver, de dar a cara pra bater, preocupada com o que meus pais, professores, igreja, líderes ou amigos haviam dito, seus avisos e conselhos ameaçadores. Passei anos paralisada pelo medo de errar e ter que ouvir um “eu não disse”. Não arrisquei com medo da derrota e mesmo assim saí perdendo.

Hoje, posso dizer que sou uma pessoa livre para tomar as minhas próprias decisões – por mais arriscadas e perigosas que sejam. Claro que respeito à opinião daqueles que considero importantes pra mim, mas não permito que eles tomem o controle da minha vida. E se eu errar? Bom, vou tomar o tropeço como lição para alcançar o triunfo.

É assim que se aprende a viver. É como uma criança que está aprendendo a andar. Não podemos proibí-la de tentar dar os primeiros passos com medo que caia (a queda é certa). Ela vai cair, mas irá também se levantar. Isso vai se repetir quantas vezes forem necessárias para que um dia consiga se manter em pé. Assim é nossa vida. Algumas vezes fazemos o papel de pais cuidadosos. Outras da criança que precisa aprender a caminhar. Como pais, precisamos ter sabedoria de permitir que nossos filhos (amigos, irmãos, namorado, marido, esposa, colegas de trabalho, etc.) se arrisquem e cresçam. E ao mesmo tempo cuidar para que nossa arrogância não os machuque ainda mais caso caiam. Como filhos, precisamos ponderar o que nos é dito e não permitir com que a opinião alheia, por melhor que seja a intenção, nos engesse e paralise nossos sonhos. Agora cabe a você pensar no que escrevi e tomar sua própria decisão. Fique tranqüilo, você pode concordar ou discordar, afinal, você é livre e a vida é feita de escolhas – certas ou erradas.

Um comentário:

Unknown disse...

Um dia encontrei no orkut de uma amiga que "gostar de si mesmo é iniciar um romance que vai durar a vida inteira". Acho que cada um deve cuidar de sua vida, e por mais que as pessoas que gostem da gente dêem muitos conselhos úteis, não podemos nos furtar da decisão única e pessoal, que é somente nossa. Muito bacana o texto.