sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ausência

Nunca conheci meus avós paternos, morreram antes de eu nascer. Minha avó materna morreu não faz muito tempo, acho que foi em 2003 ou 2004. Eu gostava dela, mas nunca tivemos uma relação dessas de “avós e seus netinhos queridos”. Ela sempre foi muito doente, sofria de depressão e um monte de doenças que, creio eu, foram causadas pelos muitos medicamentos que tomava. Quando ela partiu me entristeci muito - mas foi mais pela minha mãe, que sofria com sua ausência. Meu avô materno ainda é vivo, mas assim como foi com minha avó, não temos uma ligação forte. Ele foi um homem muito trabalhador, com um coração um pouco frio, mas é uma boa pessoa. Meu avô tem Parkinson e está bem velhinho.

Tenho muitos tios e primos por parte de mãe. Poucos da parte do meu pai. Quando era muito criança, meu tio, único irmão do meu pai, morreu com menos de 30 anos, com um câncer na cabeça. Não tivemos muito contato. Cresci meio distante dos meus primos. Ano passado, em novembro, perdi minha tia, única irmã do meu pai. Foi embora muito cedo também, tinha Chagas. Acho que essa foi realmente a primeira grande perda que sofri. Minha tia era muito amável, nunca se esquecia dos aniversários e sempre dava uma lembrancinha no Natal. Acho que a última vez que a vi foi no Natal de 2006. Quando ela morreu eu estava em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul e nem pude me despedir. Choro toda vez que me lembro dela, sem exceção. Ela foi-se muito cedo e deixou um rombo no meu coração. Passei praticamente 2007 todo em Curitiba enrolada com problemas trabalhistas, estresses por causa de emprego e não fui vê-la uma vez sequer. Isso dói. Eu sempre achava que ela ia melhorar e íamos nos ver novamente no Natal, como era de costume.

Nem sei por que estou escrevendo sobre isso, mas eu precisava. Meu cachorro Willy está com câncer, em fase terminal praticamente. Ok, cachorro não é gente. Talvez seja mais que gente. Há dez anos ele foi parte da nossa família: da hora que acordávamos até a hora de dormir estava por perto, fazendo companhia, pedindo carinho com aquela carinha mais amável do mundo e deixando nossa vida mais suave com sua “fofice”. Quando alguém chorava ele ficava maluco, subia na gente, ficava agoniado. Foi o cão mais amável que se pode imaginar. E logo vai partir e deixar a gente morrendo de saudades e com os olhos marejados, encharcados. Convivi desde criança com os animais e posso dizer: eles possuem uma sabedoria que não há entre animais humanos.

Eu ando bastante triste nos últimos dias. Difícil é não fazer um balanço da vida e ver o que realmente tem um peso eterno. No final das contas, você descobre que pode muito bem viver com muito pouco: pouca comida, pouca roupa, poucos bens, pouco luxo, pouco dinheiro. Difícil é viver sozinho. O foda mesmo é estar longe de quem a gente ama, daqueles que fazem nossa vida ter um sentido, que nos fizeram rir e hoje podemos morrer de chorar por eles. E assim a vida continua. Com muitas perdas e alguns ganhos. E a gente segue vivendo com um buraco no coração, um tijolo no estômago e um eterno nó na garganta chamado saudade.

"Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência. A ausência é um estar em mim. E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços, que rio e danço e invento exclamações alegres,porque a ausência, essa ausência assimilada,ninguém a rouba mais de mim." (Ausência - Carlos Drumond de Andrade)

Ps. Escrevi isso no dia 13. Hoje o Willy nos deixou.

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