Ai se aquela esquina do Mercado Municipal falasse. Aquele lugar sem graça, insípido, antigo, sem vida... quem diria, tem muito pra contar. Depois que Eduardo desceu do ônibus eles trocaram poucas palavras. Falaram sobre o tempo, a umidade do ar, do verão e da previsão de muito calor nos próximos dias. Carol ainda tentava entender porque ficou praticamente três horas e meia sentada naquela escada da rodoviária esperando o ônibus chegar, mesmo depois dele ter ligado pra falar sobre o atraso na estrada (uma ponte havia caído e o excesso de carros devido ao feriado iria deixar a viagem mais demorada). E lá estava ela, com a bunda quadrada, ansiosa, com cafeína correndo nas veias. Não conseguia se mover pra comprar um jornal, uma revista ou qualquer coisa que pudesse ajudar a passar o tempo. Precisava domar aquela ansiedade, ansiedade, que ansiedade, uma puta ansiedade!
Ela aproveitou o tempo para recapitular tudo o que havia acontecido nos últimos quatro meses: os e-mails, as conversas, a primeira ligação quando ela descia do ônibus, em dezembro, enquanto andava rumo a alguma loja no calçadão onde pudesse comprar o presente de amigo-secreto (detalhe, Carol odeia amigo-secreto, mas ia fazer um esforço, já que havia poucos meses que estava na empresa e não podia decepcionar). E enquanto ela disfarçava o desconforto com a ligação, tentava analisar a voz do rapaz ao mesmo tempo em que lhe contava sobre o tempo que estava fechando e que ia tomar um "banho" daqueles. Trocaram poucas palavras e cogitaram a possibilidade de um encontro em fevereiro. Essa foi a primeira ligação. A segunda? Foi na passagem de ano, 2005 para 2006. Como sempre, ela estava sozinha em casa (Carol odeia passagem de ano, pessoas vestidas de branco com aqueles clichês “feliz Ano-Novo” e etc.). As meninas estavam viajando e ela comprou um vinho para celebrar, sozinha, a virada. Não pôde viajar porque teve que trabalhar – o que não lhe trazia muita tristeza, já que detesta essa época do ano. Então, voltando ao telefonema. Alguém ligou. Ali, com a bunda quadrada na escada da rodoviária, ficou tentando recordar sobre quem havia telefonado: ela ou ele? Talvez fosse ela. Eu seria ele? Não importa, foi a segunda vez que se falaram. Depois tiveram outras. Outros e-mails. Muita, muita, muita conversa. Ela não queria admitir, mas estava ridiculamente interessada por um cara que nunca tinha visto na vida. Como podia? Como podia? Como podia? Estava.
Poucos dias antes, no computador:
- Não vou ficar com você, ela deixou bem claro. – No máximo, um beijo, finalizou.
- Tudo bem, ele respondeu. – Só quero ser teu amigo e vou me comportar, prometeu ele.
- E se eu me apaixonar? Questionou Carol.
- E se EU me apaixonar? Perguntou Edu.
- Aeh fodeu, ela disse.
- [Silêncio de Edu].
E lá estavam eles, na esquina do Mercado Municipal esperando o táxi que havia parado na rua paralela, porque ela, de tão desconcertada, errou o nome da rua. Mas o erro foi válido. Enquanto falavam sobre o tempo, Edu roubou-lhe um beijo. Um selinho. Carol ficou imóvel. Ela sorria, suava. Derretia-se diante daquele estranho conhecido. Um ar de mistério...
E ela pensava:
- Fodeu, vou me apaixonar!
E ele pensava:
- Realmente, a previsão é de muito, muito calor para os próximos dias...
Um comentário:
You're lovely.
Beijos.
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