terça-feira, 28 de agosto de 2007

Outra vez a dança

Foi só falar em dança aqui que uma jornalista amiga minha me liga querendo me entrevistar. "Pergunta básica: como a dança mudou sua vida?", disse ela. Em parceria com outra jornalista, saiu uma reportagem deliciosa de se ler, publicada no Diário da Região de 26 de agosto de 2007, e republicada, em parte, aqui, com os devidos créditos.

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Show na dança, show na vida

Andrea Inocente e Ariana Pereira

Helena não podia andar pois teve poliomielite na infância. Aurora estava com depressão profunda. Daniel havia acabado de perder a mulher. Mas a vida deles se transformou após os primeiros passos apreendidos em cursos de dança de salão. Helena, mesmo de cadeira de rodas, apreendeu a dançar e hoje compete. Aurora jogou fora os antidepressivos, agora dança pelos menos três vezes por semana. Daniel não perde uma aula e o sofrimento causado pela morte da esposa é esquecido enquanto rodopia e conduz as colegas de aula pelos salões e casas de dança.
Segundo o professor Guto Rodriguez, pelo menos 99% dos alunos que entram para um curso de dança sofrem mudanças positivas. "Ganham mais folêgo, passam a se valorizar mais, a se vestir melhor. A mulher fica mais graciosa e o homem mais confiante." Foi assim com as aposentadas Aurora Munhoz Parmigiani, 65 e Célia Monteiro dos Santos, 59, alunas de Guto há mais de cinco anos. "Eu me encontrei na dança, joguei todos os remédios fora. Para os jovens que pensam que é uma atividade para velhos estão enganados. Venham dançar, vocês vão olhar a vida de outra maneira", diz a primeira. O casal Waldemar Ruiz Romero, 77 e Luzia Lamis Romero, 68, é outro exemplo de que a dança pode mudar a vida. Foi nos salões, entre um passo e outro de tango, que a paixão de um casamento de 10 se reacendeu. "Ficamos mais próximos", afirma ele.
Também foi por meio da dança de salão que o jornalista Daniel Cardoso Martins, 27 anos, conseguiu amenizar a falta da esposa, que faleceu em maio do ano passado. "Comecei a fazer as aulas em agosto para ocupar parte do tempo que passava com ela. A dança foi uma renovação." Mas não são somente os passos que compensam para quem opta pela dança: os relacionamentos estabelecidos a partir da prática também são marcantes. "Uma coisa bacana é que não só a dança faz bem, mas o meio no qual costumamos dançar. Em um ano, fiz muitos novos amigos porque comecei a sair para praticar", afirma Martins.
O professor de dança de salão Fernando da Silva Ferreira, 29 anos, afirma que já perdeu a conta de quantos alunos mudaram de vida ou se recuperaram de traumas devido à prática. "Tenho vários alunos que tinham problemas de depressão, mas conseguiram superar a dor por meio da dança. A estrutura psicológica da pessoa muda completamente. Eu acredito no poder que a dança tem para mudar a vida dos que a praticam", afirma Ferreira.

Cadeirante participa de competições
Aos 10 meses de idade, a estilista rio-pretense Helena Prioste Pimenta, hoje com 73 anos, teve poliomielite, doença que causou a paralisia de suas pernas e a colocou para sempre em uma cadeira de rodas. "Até tentei andar com muletas e andador por um tempo, mas caía muito, me machucava, vivia engessada", afirma. Há aproximadamente 10 anos, Helena decidiu que queria se exercitar. Primeiro tentou o basquete em cadeira de rodas. "Mas sempre me deixavam na reserva. Sabe como são os homens, né? Eles que mandam no time, se bem que eu não jogava muito bem mesmo", diz.
Depois Helena foi fazer natação. "Aprendi a nadar todos os estilos, mas de uma hora para outra fiquei com medo de água e desisti." Foi quando a estilista decidiu que queria dançar, mas o novo obstáculo no caminho foi encontrar um professor que aceitasse o desafio de ensinar os passos a alguém em uma cadeira de rodas.
"Todas as academias que eu procurava ou professores que consultava me olhavam como se fosse louca. Acho que pensavam: como essa 'aleijada acha que vai dançar? Coitada!' Mas eu tinha certeza, ia dançar sim. Tanto que hoje até participo de competições não só em Rio Preto, mas em várias outras cidades", afirma. As aulas de dança de salão começaram quando Helena conheceu o professor Guto Rodriguez, que fez até cursos de especialização para ensinar à aluna os passos dos principais ritmos de dança.
"Tenho aulas duas vezes por semana e sempre que há uma festa lá estou para dançar. Adoro, a dança mudou minha vida", diz a estilista. "Ela ficou mais vaidosa depois que começou a dançar. Deixou o cabelo crescer, passou a fazer vestidos para cada coreografia ensaiada, a se maquiar. Está mais feminina e muito mais confiante", afirma o professor.
Em novembro, se o casal conseguir patrocínio - só falta o dinheiro para as passagens aéreas de ida e volta de Rio Preto a João Pessoa, na Paraíba - vai competir no Campeonato Brasileiro de Dança em Cadeira de Rodas. "Nos classificamos para a competição ao ganhar uma mostra de dança no ano passado. Já conseguimos hospedagem e alimentação, mas os R$ 1,4 mil para as passagens ainda não. Se não conseguirmos o patrocínio não temos como participar da competição", afirma Guto.

Dois sonhos, duas trajetórias de sucesso
Para Marcelo Reis de Oliveira, 30 anos, e Fernando da Silva Ferreira, 29 anos, a dança é muito mais do que passatempo. Foi ela que possibilitou uma mudança radical no estilo de vida que levavam. Além de parâmetros psicológicos, os passos na pista influenciaram no jeito de viver desses rapazes.
"Eu vivia na periferia da cidade. Desde muito jovem me envolvi com a dança por meio do Hip Hop. Infelizmente, na turma com a qual eu praticava o estilo tinha gente ruim também. Muitos amigos daquela época ou morreram por causa de drogas ou estão presos", lembra Oliveira.
A necessidade de trabalhar e conseguir sobreviver fez com que Oliveira se afastasse do Hip Hop por um tempo. Mas a dança já havia lançado raízes no interior do rapaz. Durante o período em que trabalhava em uma empresa de metalurgia, Oliveira engajou-se em um grupo que praticava dança de salão.
"Me envolvi ainda mais com a música. Ela começou a tomar conta do meu tempo e fiz o possível para ficar cada vez mais próximo dessa realidade. Mudei-me de casa, para morar mais perto da academia na qual praticava. Isso me ajudou a sair do meio sem muitas opções em que vivia", afirma. A dança tomou conta de tal forma da vida de Oliveira que, aos 25 anos, escolheu deixar tudo e tornar-se professor.
Foi por meio dessa oportunidade que decidiu voltar a estudar e, no fim desse ano, vai formar-se em Educação Física. "Muitos momentos marcantes da minha vida eu devo à dança. A primeira vez que vesti um terno foi proporcionada por isso. Eu fui assistir a apresentação de uma orquestra. Nunca imaginei que, do lugar de onde eu vim, eu teria uma oportunidade dessas." Mudança também é sinônimo de dança para Ferreira. Acostumado ao trabalho pesado de lavouras, os passos leves conquistaram o rapaz depois que ele presenciou uma apresentação de dança. "Quando vi aquilo decidi entrar para um curso. Foi o suficiente para me dar mais auto estima e motivação pela vida." Aos poucos, o exagero nas bebidas deu lugar ao passos aprendidos nas aulas. A lavoura de cana-de-açúcar foi substituída pelos salões de dança, o lavrador virou professor. "Eu acredito que a dança pode lapidar o que há de bom nas pessoas. Estou buscando me aperfeiçoar sempre e, a partir do ano que vem, começo no curso de pedagogia. Quero dar às crianças a mesma oportunidade que eu tive por meio da dança", afirma Ferreira.

Um comentário:

Unknown disse...

Mt boa a matéria!!!! legal msm!!!
faltou a homenagem as tuas cobaias... :(
hauheiahue

Bjuuu xuxu