terça-feira, 16 de outubro de 2007

Por favor, posso ser eu mesma?

= = > Sobre morte e tecnologia

Esses dias morreu uma moça, amiga das minhas irmãs, bem novinha. Teve um aneurisma. Terrível. Então minha irmã me mostrou um “scrap” que a guria deixou no Orkut dela um dia antes, que estava super feliz, etc. Entramos no Orkut da falecida, ainda cheio de fotos de momentos felizes e lotado de recados e mensagens de adeus, de saudades, etc. Como se a pobre pudesse, de algum lugar, acessa-los. Coisa bizarra. Eu perguntei:

- Porra, por que não apagam o perfil da menina?

Minha irmã disse:

- Porque ninguém tem a senha.

Eu respondi a ela que alguns amigos meus têm minha senha, umas três pessoas, acho. E dei minha senha e login à minha irmã. Ela perguntou o motivo. Eu disse:

- Se eu morrer amanhã ou um dia que ainda existir Orkut você apaga o meu perfil. Não quero ser um fantasma no Orkut.

Ela ficou horrorizada. Ma seu não vejo motivo pra se escandalizar...

Eu queria muito que nossa sociedade encarasse a morte de uma maneira menos trágica. Talvez como uma passagem, uma despedia. Não precisa deixar de ser triste, mas gostaria que não envolvesse tanto drama, tanta dor e desespero. Um dia disse ao meu pai que eu queria ser doadora de órgãos. Até aí tudo bem. Mas quando eu falei que queria ser cremada... ele ficou chocado. Disse quase chorando que nunca faria isso. Ai meu Deus! Por que tanto drama? Morreu, morreu. Pronto.

Enfim, não sei por que entrei nesse papo macabro. Talvez seja porque hoje eu passei em frente ao cemitério, fiquei olhando aquilo tudo, observado essa indústria da morte: funerárias, floriculturas, capelas, crematórios... No final, tudo se resume em uma palavra: comércio. Morrer também dá lucro e ajuda muita gente a sobreviver. Isso tudo é muito bizarro.

= = > Sobre merda e vaso sanitário

Falando em morte, tabus... me lembrei de outra coisa que aconteceu recentemente. Esses dias postei um texto da Trip sobre cocô, fezes e afins. Isso provocou um agito geral. Engraçado como as pessoas têm medo de falar sobre coisas bobas do cotidiano como merda. Poxa, ficar sem ir ao banheiro uns dias é terrível. Falei pro Julio (meu melhor amigo) semana passada que se eu comesse muito pão branco eu entupia e não conseguia “cagar” (risos). Ele ficou chocado com meu comportamento. Qual é? Isso faz parte da intimidade. Amigo que é amigo fala disso também!

Estava combinando ontem de passar uns dias na casa do Rô (meu melhor amigo há mais de 10 anos) na semana que vem e perguntei pra ele em que banheiro eu poderia “cagar”. Ele disse, na boa, que se eu me sentisse mais à vontade, poderia usar o da empregada. Falávamos sobre essa coisa de “travar” quando se trata da casa dos outros. Fazer cocô fora de casa é constrangedor – pelo menos pra mim.

O Eduardo, na última vez que nos vimos, me deu uma aula sobre cocô que bóia e que afunda. Segundo a nutricionista dele, o que bóia é bom, mas eu tenho minhas dúvidas. Andei lendo que quando bóia é sinal de muita gordura consumida. Achei o máximo essa conversa. Acho que quando ultrapassamos essas frescuras, esses “cuidados” com o que se fala, damos um passo importante rumo à intimidade. Não apenas entre um casal, mas entre amigos mesmo. É como na casa da gente. Entre meus familiares eu não tenho pudores em conversar sobre essas coisas. Sai até palavrão... Ter liberdade pra falar o que se pensa, sem ferir, sem ofender o outro, naturalmente, é muito gostoso e me faz bem.

= = > Sobre boca suja e ter personalidade

Eu tenho um problema com palavrões. Já falei muito, dei uma maneirada. Mas quando fico nervosa, perco a linha e sempre me escapam uns. Sinto um alívio danado quando solto uns bem cabeludos naqueles dias de fúria! Acho que o palavrão liberta, risos. Não estou defendendo a grosseria, a falta de respeito ou etiqueta, que devemos sair por aí soltando palavrões aos quatro cantos. Não. Apenas acho que as pessoas têm o direito de serem elas mesmas, pelo menos de vez em quando. Pelo menos quando estiverem na companhia daqueles que consideram amigos. Pelo menos uma vez na vida.

Seja sobre morte, fezes, palavrão, sexo, religião, política ou amor, o importante é falar. Quem gosta de falar também precisa aprender a ouvir e respeitar a opinião dos outros. Ninguém precisa concordar com tudo o que escrevemos, falamos ou pensamos. O importante é que as pessoas que convivem com a gente se libertem dos preconceitos, dos tabus e possam se sentir seguras para ser quem realmente são. Eu estou tentando. Certa ou errada, agradando a poucos ou desagradando muitos... é assim que sou. Assim que penso. Posso estar errada, e posso mudar de idéia a qualquer momento. É assim que aprendemos a assumir quem somos. É assim que formamos nossa personalidade. Be yourself, always.

Um comentário:

Daniel Dedo disse...

Acho esta uma de suas características mais fascinantes: você é você, sempre, sem máscaras nem disfarces.
Superbeijo.
Saudades.