sexta-feira, 1 de junho de 2007

O papel, o computador e o fim dos tempos

Li uma reportagem hoje na Revista da Folha que anualmente cerca de 850 milhões de cartas (cartas mesmo, de pessoa física para pessoa física) passam pelos postos dos Correios. Esse número corresponde a 10% do que eles chamam de objetos postais, que são contas, encomendas e malas-diretas enviadas e recebidas no Brasil. De acordo com o consultor da presidência dos Correios, a porcentagem é a mesma há mais de dez anos.

Em 1994, quando a Internet começava a se alastrar por aqui, os Correios circulavam 4,6 bilhões de objetos postais. Hoje, esse número dobrou. Ou seja: mesmo com o advento do e-mail, as pessoas não deixaram de postar - a correspondência comercial, claro, mas também a pessoal. Entre outras histórias, a matéria conta sobre um engenheiro que faz questão de se sentar nos momentos de folga para redigir extensas e calorosas cartas para os amigos. Achei isso tudo muito curioso e viajei lá pra minha infância, nos anos 80, quando os românticos papéis de carta eram objetos de desejo. Será que alguma menina de 12 anos hoje sabe o que é um papel de carta? Certamente não. Estão em extinção. Eu devo ter em algum lugar na casa dos meus pais uma pasta com papéis de carta. Quando for pra lá vou procurar. Relíquia.

Tenho que confessar que sou uma pessoa saudosista. Levar a carta aos Correios e olhar diariamente a caixinha na esperança de encontrar a resposta (levava dias, semanas e até meses) era uma ansiedade sem igual (hoje só recebo cobranças pelos Correios). Mas, honestamente, não trocaria a facilidade que a tecnologia proporciona hoje, por estes velhos rituais de comunicação. A Internet chegou para ficar e facilitou a comunicação entre as pessoas (pelo menos é o que acredito). Mas isso não quer dizer que estamos nos comunicando melhor. Mesmo com tanta facilidade e tecnologia à disposição, todo mundo se queixa da falta tempo – que ironia. Então gastamos tempo demais falando com trezentas pessoas ao mesmo tempo pelo MSN, deixamos um “scrap” pra nos desculpar pela falta de tempo, mandamos um “torpedo” para desmarcar o encontro porque faltou tempo, ignoramos os e-mails porque não dá tempo de ler e nos adaptamos facilmente a uma vida virtual. Nos comunicamos mal, muito mal (será o fim dos tempos?).

Hummm, pensando bem, acho que estou com saudades dos papéis perfumados, das letras desenhadas, dos envelopes coloridos e dos selos lambidos... Alguém tem uma caneta aí?! (Acho que ainda dá tempo).

4 comentários:

Vin Severson disse...

Eu gosto de cartas!

E até hoje mando para amigos que moram longe. Não sei pq mas quando mando email, parece q não consigo me expressar direito. Dá a impressão que o destinatário não vai me entender...

Autor disse...

Eu li a matéria no domingo e achei bastante curioso as pessoas ainda terem esse hábito. Não tenho o hábito e acho que nem sei escrever uma carta e sou totalmente a favor da tecnologia.

SÍLVIA OLIVEIRA disse...

Eu fui a maior escritora de cartas da face da terra. E quando viajo, até hoje mando CARTOES POSTAIS aos amigos... e não e-mails dizendo "estou aqui!"

Também acho que virei jornalista depois de escrever tantas cartas... era um processo criativo delicioso... Humm, e o dia em que eu descobri uma caneta com tinta cheiro de morango???

Há dois meses recebi uma carta de uma ex-aluna minha, foi minha primeira carta recebida nos último 15 anos!!!! E ela - recém aprovada em jornalismo na UEL - dizia que preferia escrever aquelas doces linhas para fugir um pouco da impessoalidade do e-mail... e a carta veio em papel especial, caneta coloridinha... cheia de desenhinho. Liiindo!

Que saudades da aurora da minha vida!

Thaís disse...

É, cartas também me lembram um período delicioso da minha adolescência. Adorava trocar correspondência com meninos e meninas que conhecia nas viagens de férias. A melhor parte era enviar os cartões de Natal: lembro de épocas em que postava até 20 aerogramas (para mim, era uma imensidão, rs!).
Mas a tecnologia tem suas vantagens e curiosidades. Hoje tenho nos contatos do MSN algumas dessas pessoas a quem escrevia. O pior é que tinha mais contato com elas na época das cartas... Elas estão ali, ao meu alcance, mas nunca tenho tempo para dar um oi. É, acho que está na hora de voltar aos bons tempos de papel e caneta!