terça-feira, 12 de junho de 2007

O fator Leste


Eu fico tentado, sempre, a escrever seriedades. Influência de minha companheira de blog, tão sóbria em tudo que diz. Mas hoje, com orgulho, volto às balelas e abobrinhas, o primeiro impulso deste site.

Gostaria de falar do “fator Leste”. Não sabe o que é? Não tem a mínima idéia?
Se o leitor conjectura tal fator ser algo relacionado ao clima (talvez ao aquecimento da Terra), à geopolítica mundial, à economia global, cabe a mim desmistificar o fato. O fator Leste não tem a ver com o norte, o sul, o oeste e nem mesmo o leste, mas sim à minha avó, Maria Celeste, conhecida simplesmente como.... “Leste”!

Acontece que fui passar o feriadão prolongado na pacata Joanópolis, cidadezinha encravada nas montanhas da Serra da Mantiqueira, pertinho de Minas Gerais. Programa em família: avó, tios, primos, cônjuges de priminhos e a priminha de 3 aninhos que divertiu a todos.

Lá estávamos nós nos divertindo com um jogo chamado Belote, fácil de aprender, mas complicado para se explicar assim, escrevendo. Mas o que é preciso saber para entender o fator Leste é o seguinte:
- Na primeira rodada, cada jogador recebe uma carta. Na segunda, duas... e assim por diante.
- Cada carta será um turno da rodada. O objetivo do jogador é acertar previamente quantos turnos vai vencer. Se declarar que vence um e ganhar três, já era, zerou.
- E, pra exemplificar: na rodada com seis cartas, há seis turnos para serem vencidos: se um jogador declarar que ganha quatro, outro que vence três e outro que leva dois, a soma dá nove, eu seja... alguém já errou e se danou (ou todos erraram... e se danaram...).

Bom... estávamos lá nós jogando em sete pessoas, com dois baralhos. Entre os jogadores estava a Leste, que começou humildemente dizendo que ganharia um turno (já começamos com três cartas pra adiantar o jogo). Ela acertou, fez seus pontinhos e tudo bem.

Aí começou o que se revelaria o fator surpresa do jogo. A Leste, pouco entendendo as regras ou simplesmente se fazendo de boba mesmo só pra ver o circo pegar fogo, resolveu apimentar a partida com previsões erradíssimas de seu jogo. O problema é que um jogador sempre tem uma idéia do que pode apostar pelo que o outro já apostou (Exemplo: se, em seis turnos, alguém fala que ganhar quatro, eu já vou de manha por considerar que ele deve ter cartas boas na mão...).

Aí era um tal da Lesta dizer que ia ganhar um turno e vencer quatro. Ou então falar que levaria quatro fácil e não conquistar um sequer. Em poucas rodadas, o termo “fator Leste” já estava criado.

“Puxa... eu acho que ganho três turnos... mas preciso contar com o fator Leste”... era uma frase comum na mesa. E lá estava ela a apostar nada e descartar coringas em turnos que pareciam ganhos pelos jogadores que haviam armado sua estratégia.

Aquele simples jogo entre familiares (no qual a Leste só acertou sua pontuação em duas rodadas e ficou em último, mas deu muita diversão a todos) me fez pensar como o fator Leste está presente no dia-a-dia.

Às vezes temos tudo planejadinho, arquitetado para vencermos os turnos que precisamos... e lá vem um fator surpresa nos tirar o doce da boca. O sabor, muitas vezes, fica amargo.

Mas é aí que temos de saber ser flexíveis. Jogo de cintura é essencial. Saber lidar com as adversidades é imprescindível. Eu que o diga.

Um comentário:

Thaís disse...

Mas nem sempre o "fator Leste" tem essa conotação negativa. Muitas vezes, ele desvia nossos caminhos do plano original e o que parecia desanimador torna-se uma surpresa especial.
É como planejar aquela viagem para a praia imaginando uma semana cheia de dias ensolarados. Eis que vem o "fator Leste" e coloca nuvens carregadas, acabando com a possibilidade de pegar um bronzeadinho. Você passa uma semana trancado no hotel, mas - que surpresa boa! - conhece um monte de pessoas legais, faz amizades, pega contatos e ganha a oportunidade de viajar para outros lugares que você nem imaginava.
Às vezes a gente tem que aprender a ver as adversidades usando óculos coloridos... Pense nisso!