sábado, 2 de junho de 2007

O que te escandaliza?

Li ontem na Folha que o Roberto Justus, aquele do programa Aprendiz (agora O Sócio – TV Record), demitiu dois participantes do reality show devido a uma instalação ilegal e a intenção declarada de um dos concorrentes em subornar fiscais da prefeitura durante uma prova. O integrante resolveu colocar uma tenda com a marca de determinada empresa na calçada de uma avenida em São Paulo, mesmo sem autorização da prefeitura. O executivo Eduardo Rodrigues Franklin, 39, disse que reservaria R$ 100 caso fiscais da prefeitura aparecessem no local. A sugestão foi aceita pelos demais integrantes do grupo. No programa, Justus tacou-lhes um discurso a favor da moral e da ética nos negócios e demitiu dois candidatos de uma vez só – fato inédito no programa.

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O escândalo revelado pela Operação Navalha, da Polícia Federal, levou no dia 22 de maio um ministro a pedir demissão ao presidente Lula. Silas Rondeau entregou seu cargo no ministério de Minas e Energia. Ele é acusado pela polícia de ter recebido propina da construtora Gautama, a empreiteira-mãe do esquema de fraude em obras públicas.

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Já no dia 28 de maio, o presidente do Senado, Renan Calheiros, do PMDB de Alagoas, foi ao plenário defender-se da suspeita de ter usado dinheiro do lobista Cláudio Gontijo, da construtora Mendes Júnior, para pagar pensão à jornalista Mônica Veloso, com quem teve uma filha em 2004. O senador confessou que teve um relacionamento fora do casamento, que lhe deu uma filha, e que ele assumiu a paternidade um ano e cinco meses após o nascimento da menina. Os advogados agora tentam convencer que Renan Calheiros tinha recursos para bancar a pensão da filha e que o dinheiro saiu das contas dele, e não do lobista da construtora, como denunciou a revista Veja na semana passada.

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Voltando mais um pouco no tempo, no dia 21 de maio, o Jornal Nacional colocou no ar uma matéria que mostrava (veja aqui) cidadãos brasileiros assumindo que já haviam praticado atos de corrupção. Ao mesmo tempo em que a população condena o comportamento sujo praticado pelos políticos, acabam não apenas seguindo pelo mesmo caminho, mas cometendo os mesmos erros sem qualquer culpa (o velho jeitinho brasileiro). Já quem dá o exemplo, como mostra a mesma reportagem, passa muitas vezes despercebido e desmotivado.

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Cerca de 24 mil pessoas aceitaram o desafio e participaram da seleção para entrar no programa comandado por Roberto Justus na Record, mas apenas 16 foram escolhidos para concorrer a um emprego na agência de marketing Wunderman (em Nova York) com salário anual de R$ 500 mil. E quem diria, do supra-sumo da “competência”, revela-se um ser capaz de declarar-se corrupto em rede nacional. Justus fez muito bem em mandá-los de volta pra casa e deve ter feito muita gente parar pra pensar naquele momento. Isso prova que ter um bom currículo não garante caráter. E a falta dele também não justifica a desonestidade.

Furar fila, estacionar em local proibido, ocupar vagas destinadas aos deficientes físicos, passar pelo sinal vermelho, falsificar carteirinha de estudante, fazer um gato na TV a cabo do prédio, não emitir nota fiscal, pagar uma propina para um policial... quem nunca passou perto de atitudes como estas? Pois é, isto não nos deixa muito longe dos escândalos que saem todos os dias na TV. Acredito que, se quisermos cobrar algo de alguém, seja de quem for – do político ladrão ou do posto que nos vende combustível adulterado -, precisamos primeiro fazer a nossa parte. Você acha pouco? Bom, eu acho o suficiente.

3 comentários:

SAM disse...

TUDO ISSO ME IRRITA, SE ME ESCANDALIZO, MUITO, FAZER MINHA PARTE, SIM ÉSTA FAÇO, MESMO NÃO SENDO FACIL, NEM ME AGRADA ALIMENTAR A MAQUINA COM MEU DINHEIRO, MEU IMPOSTO DE CADA DIA O QUE IRÃO FAZER COM ELE?

PARABENS, SEMPRE VALE A PENA LEMBRAR CADA BRASILEIRO QUE CARATER AINDA VALE A PENA.
SILAS AUGUSTO

Autor disse...

Não concordo com as pessoas que dizem que o mal exemplo vem de cima. Acho que o problema da corrupção no Brasil é generalizado e o mal exemplo vem de baixo, quando algum de nós suborna um policial, um fiscal e é assim que começa a desgraça brasileira.

Thaís disse...

Infelizmente, esses tipos de hábitos que vc citou já estão mesmo arraigados em nossa cultura. Mas, por incrível que pareça, me enchi de esperança um dia desses. Zapeando pelos canais da tv paga, descobri no Canal Futura um programa muito bacana. Chama-se "Jeitinho Brasileiro" e vem tirar a carga negativa desse termo tão conhecido por nós. Mostra iniciativas de brasileiros que, com muita garra e criatividade, descobriram formas bacanas e, principalmente, honestas de ganhar a vida. Vale dar uma conferida!

Abraços!